A Amazônia é nossa
BIA BOTANA
Mais uma vez, no curto espaço de tempo de dois meses, as Forças Armadas norte-americanas se dedicam a entusiasmados exercícios em campanha na região de fronteira da Guiana com o Brasil. Na ocasião anterior, em maio, foi reativada a antiga base naval norte-americana de Makouria, no rio Essequibo, a 120 km de Georgetown, após uma ausência de mais de 25 anos. Colônia holandesa, a Guiana veio a ser dominada pelos ingleses (1814), tornando-se uma República Independente só a partir de 1970, quando adotou um alinhamento francamente prócomunista. Com a derrocada soviética em l99l e pressionada por uma economia caótica, agravada pelo acordo desvantajoso com o FMI, a Guiana abandonou o socialismo radical e aproximou-se da social-democracia, tendo como padrinho ninguém mais que o ex-presidente dos EUA, o democrata Jimmy Carter. Dessa maneira, ao final de 1992, as portas daquele país foram literalmente abertas para os norte-americanos e agora em 1993 para seu atual presidente, o também democrata Bill Clinton.
Para os leigos, pode parecer uma ingênua coincidência de ações norte-americanas, mas para aqueles versados nos macetes históricos, a situação permite observar uma notável ação estratégica, onde a passos largos caminha-se para um objetivo determinado. E visivelmente acentuada a tendência norte-americana de tornar efetiva a sua presença na América do Sul, como já o fez na América Central com suas bases no Panamá, aqui incurcionando na cobiçada região amazônica. O combate ao narcotráfico, mais precisamente aos cartéis de Medellín e Calli, que possuem rotas com passagem por Paramaribo, capital do vizinho Suriname, seria justificativa mais que louvável para a presença militar dos EUA na Guiana não fosse seu obscuro e latente desejo imperialista sobre a Amazônia.
A verdejante hiléia, designação dada pelo naturalista alemão Humboldt à floresta amazônica, recobre com a delicadeza de uma pele um dos solos mais ricos do mundo, apesar de impróprio à agricultura. São notáveis seus r€cursos minerais, onde pode-se encontrar não só ouro, diamante, bauxita, cassiterita, cobre, mas muito mais. Por outro aspecto, a diversidade de vegetais existentes, muitos dos quais ainda desconhecidos, aguça a comunidade científica internacional, que crê ser possível encontrar entre eles a cura da AIDs, do câncer e outras doenças.
A Amazônia tem a sua maior parte, 5 milhões de km2, em solo brasileiro, correspondendo a 60% deste. Ora, é em razão disso que orgulhosamente o brsileiro diz: "A Amazônia é nossa!" Apesar deste mesmo brasileiro, quase sempre, não estar nem aí com a Amazônia, fazendo tal expressão de posse da boca para fora. O mesmo acontece com os políticos e governantes, seja em nível federal, estadual ou municipal, muito mais preocupados em fazer reles politicagem. Quando se interessam, ou estão de olho nas verbas - no quanto poderão pôr no bolso -, ou estão de olho nas urnas - nos votos que irão angariar nas próximas eleições, sem, em nenhum momento, prestarem atenção na relevância nacional.
A Amazônia é a nota promissória, o lastro brasileiro, entretanto, nem nos preocupamos de sentar em cima do nosso tesouro para ninguém pegar, afinal, ele é tão imenso, quem o poderia roubar? Não o usamos e deixamos o caminho livre para quem quiser usar. O projeto Calha Norte, direcionado à rápida colonização da Amazônia, urge, mas não se pode esperar milagres das nossas carentes Forças Armadas, é preciso mais. É necessário que se repense a situação amazônica, não só tendo em vista o desenvolvimento regional, mas sua contribuição efetiva à economia nacional, ao propiciar um novo direcionamento econômico, com o extrativismo inteligente de riquezas, que permitirá ao Brasil uma participação signiÍicativa no mercado internacional. Mais do que nunca, a Amazônia precisa receber uma visão empresarial dinâmica que dê progresso ao País e não cultive o atraso já existente, pois bem sabemos agora que a devastação da amazônia brasileira foi superestimada ao final da década de 80, com o único intuito de constranger e causar sérios embaraços ao Brasil, e assim atender as intenções pouco ecológicas e humanistas dos governos dos países industrializados da Europa e dos EUA, os quais são os verdadeiros predadores do planeta.
Está na hora de acordarmos. Se a Amazônia é nossa tratemos de cuidar dela, antes que dela algum malandro lance mão; depois, não adianta reclamar. Os russos também não acreditavam no fim da União Soviética, viram só no que deu? O que antes parecia ser só ficção virou fato.
Bia Botana é analista política