SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A AMAZÔNIA É NOSSA





Quarta-feira, 21/7/93

A Amazônia é nossa

BIA BOTANA

Mais uma vez, no curto espaço de tempo de dois meses, as Forças Armadas norte-americanas se dedicam a entusiasmados exercícios em campanha na região de fronteira da Guiana com o Brasil. Na ocasião anterior, em maio, foi reativada a antiga base naval norte-americana de Makouria, no rio Essequibo, a 120 km de Georgetown, após uma ausência de mais de 25 anos. Colônia holandesa, a Guiana veio a ser dominada pelos ingleses (1814), tornando-se uma República Independente só a partir de 1970, quando adotou um alinhamento francamente prócomunista. Com a derrocada soviética em l99l e pressionada por uma economia caótica, agravada pelo acordo desvantajoso com o FMI, a Guiana abandonou o socialismo radical e aproximou-se da social-democracia, tendo como padrinho ninguém mais que o ex-presidente dos EUA, o democrata Jimmy Carter. Dessa maneira, ao final de 1992, as portas daquele país foram literalmente abertas para os norte-americanos e agora em 1993 para seu atual presidente, o também democrata Bill Clinton.

Para os leigos, pode parecer uma ingênua coincidência de ações norte-americanas, mas para aqueles versados nos macetes históricos, a situação permite observar uma notável ação estratégica, onde a passos largos caminha-se para um objetivo determinado. E visivelmente acentuada a tendência norte-americana de tornar efetiva a sua presença na América do Sul, como já o fez na América Central com suas bases no Panamá, aqui incurcionando na cobiçada região amazônica. O combate ao narcotráfico, mais precisamente aos cartéis de Medellín e Calli, que possuem rotas com passagem por Paramaribo, capital do vizinho Suriname, seria justificativa mais que louvável para a presença militar dos EUA na Guiana não fosse seu obscuro e latente desejo imperialista sobre a Amazônia.

A verdejante hiléia, designação dada pelo naturalista alemão Humboldt à floresta amazônica, recobre com a delicadeza de uma pele um dos solos mais ricos do mundo, apesar de impróprio à agricultura. São notáveis seus r€cursos minerais, onde pode-se encontrar não só ouro, diamante, bauxita, cassiterita, cobre, mas muito mais. Por outro aspecto, a diversidade de vegetais existentes, muitos dos quais ainda desconhecidos, aguça a comunidade científica internacional, que crê ser possível encontrar entre eles a cura da AIDs, do câncer e outras doenças.

A Amazônia tem a sua maior parte, 5 milhões de km2, em solo brasileiro, correspondendo a 60% deste. Ora, é em razão disso que orgulhosamente o brsileiro diz: "A Amazônia é nossa!" Apesar deste mesmo brasileiro, quase sempre, não estar nem aí com a Amazônia, fazendo tal expressão de posse da boca para fora. O mesmo acontece com os políticos e governantes, seja em nível federal, estadual ou municipal, muito mais preocupados em fazer reles politicagem. Quando se interessam, ou estão de olho nas verbas - no quanto poderão pôr no bolso -, ou estão de olho nas urnas - nos votos que irão angariar nas próximas eleições, sem, em nenhum momento, prestarem atenção na relevância nacional.

A Amazônia é a nota promissória, o lastro brasileiro, entretanto, nem nos preocupamos de sentar em cima do nosso tesouro para ninguém pegar, afinal, ele é tão imenso, quem o poderia roubar? Não o usamos e deixamos o caminho livre para quem quiser usar. O projeto Calha Norte, direcionado à rápida colonização da Amazônia, urge, mas não se pode esperar milagres das nossas carentes Forças Armadas, é preciso mais. É necessário que se repense a situação amazônica, não só tendo em vista o desenvolvimento regional, mas sua contribuição efetiva à economia nacional, ao propiciar um novo direcionamento econômico, com o extrativismo inteligente de riquezas, que permitirá ao Brasil uma participação signiÍicativa no mercado internacional. Mais do que nunca, a Amazônia precisa receber uma visão empresarial dinâmica que dê progresso ao País e não cultive o atraso já existente, pois bem sabemos agora que a devastação da amazônia brasileira foi superestimada ao final da década de 80, com o único intuito de constranger e causar sérios embaraços ao Brasil, e assim atender as intenções pouco ecológicas e humanistas dos governos dos países industrializados da Europa e dos EUA, os quais são os verdadeiros predadores do planeta.

Está na hora de acordarmos. Se a Amazônia é nossa tratemos de cuidar dela, antes que dela algum malandro lance mão; depois, não adianta reclamar. Os russos também não acreditavam no fim da União Soviética, viram só no que deu? O que antes parecia ser só ficção virou fato.

Bia Botana é analista política

DEMOCRACIA DE MENTIRINHA



Quarta-feira, 14/7/93

Democracia de mentirinha

BIA BOTANA

A ordem de prisâo contra PC desencadeou a maior crise institucional dos últimos tempos. O comportamento irresponsável, .mesmo que justificável da Polícia Federal representa uma insubordinação inadmissível num órgão, institucional, cuja existência justifica-se pelo conceito protecional que oferece à sociedade para a manutenção da lei e da ordem. As Forças Armadas. a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Polícia Federal são instituições que possuem, no seu âmago, o princípio disciplinar. onde a obediência à ordem hierárquica superior determina o potencial de comando; na prática o saber obedecer é o saber comandar. A presente insubordinação da PF revela a que ponto a subversão se tornou presente na instituição, fruto esta de caos em que caiu o País nos últinros anos e principalmente do desmantelo criminoso sofrido pela PF no período Collor.

A democracia contemporânea teve seu nascimento e desenvolvimento a partir da implantação e implementação do livre comércio na Europa. Da mesma forma que ocorrera, já na antiguidade. o desenvolvimento comercial que resultou em luta de classes: tal dinâmica social se deu e se dá em razão da ascensão constante de uma classe social sobre a outra, devido ao poderio econômico e financeiro também em constante movimento, tornando o fato de o "dinheiro mudar de mãos" um ciclo transformador da própria sociedade capaz de determinar um processo evolutivo heterogêneo onde possibilita às várias camadas sociais adquirirem educação pela necessidade sempre nova de aculturação.

Em razâo do que foi dito acima, é impossível estabelecer-se uma democracia sem que haja liberação econômica, ou melhor, sem que haja uma efervescência comercial, já que a democracia é o resultado do desenvolvimento comercial, pois a demanda de mercado pede o crescimento produtivo, desencadeando toda atividade econômica. O comércio de riquezas  sempre foi o grande instrumento transformador da humanidade e é inegável que foi nele a origem da democracia. Ora, no Brasil o que se conhece é uma falsa democracia. Implantada no final do século passado pelas elites conservadoras interessadas em manter as rédeas do poder, a nossa democracia, desde o seu nascimento, foi castrada, refletindo mais os anseios dos grupos dominantes de modo a estabelecer uma oligarquia velada, eternamente protegida por um arcabouço constitucional para atender-lhe às vontades, em detrimento da verdadeira soberania popular. É preciso esclarecer que o voto, por si só, não configura uma democracia e nem sempre é garantia do direito de escolher um governo. O voto mal usado pode ser tão prejudicial a uma sociedade quanto qualquer regime autoritário, podendo servir a uma ditadura "oculta", e, no caso brasileiro. serve a uma oligarquia.

O desencanto com a promessa de desenvolvimento com a democracia das "diretas-já" fez com que muitos adotassem uma postura temerária frente à lei. E, com o intuito de satisfazer a qualquer custo as expectativas enriquecedoras prometidas, muitos tornaram-se cidadãos corruptos e perderam qualquer senso de cidadania. Os interesses próprios sobrepuseram-se aos interesses nacionais. Essa ausência de um trabalho de toda sociedade para a construção institucional da democracia resultou numa sociedade que possui aversão a si mesma e por isso alimenta-se de um processo que ocasiona sua impiedosa autodestruição. No momento, o que ocorre é que, afastado o "bode expiatório" do comunismo, camadas mais esclarecidas da população começaram a ter mais consciência das virtudes democráticas e dos seus benefícios cívicos. Certas, porém confusas, reivindicam uma situação assegurada pelo direito constitucional, mas que não possuem na prática. O que estamos vendo na PF é o resultado dessa tomada de consciência, que de forma atrabiliária se confronta com a democracia de mentirinha em que vivemos até hoje.

No atual estado das coisas, qualquer historiador sabe qual será o final desse período histórico brasileiro: as elites vigentes favorecerão a repressão, limitarão os direitos democráticos, o que poderá se dar por exemplo com o ressurgimento de decretos-leis, ou AIs (Atos Institucionais), ou até chegar à "fujimorização". Só a recuperação econômica imediata poderá evitar o pior e garantir a democracia. Mas, para isso, o tal jeitinho brasileiro, a roubalheira, precisa acabar. Vocês acreditam em milagre? Entao é melhor começar a rezar...

Bia Botana é analista político

GENTE QUE FAZ



Terça-feira, 6/7/93

Gente que faz

BIA BOTANA

Em que situação terrível nos encontramos! Seria tão agradável por uma vez ao menos poder escrever algo de bom e elogiável, mas triste é essa nossa profissão que nos obriga a exercer sempre a postura de "advogado do diabo."

Gostaria de saber como os outros brasileiros estão se sentindo em relação ao caso PC, melhor seria chamar caso Collor, talvez também se sintam aviltados e indignados. É mais do que evidente que PC não é o tubarão dessa história, não passa de um bode expiatório. Ele é bandido, sim, mas um bandido burro, o que vem amargando muito os verdadeiros poderosos, porquanto seus planos foram irreversivelmente comprometidos e agora Paulo César Farias sabe demais, tornando-se um complicador sem precedentes para a manutenção do status quo vigente no País.

Mas não é só o sr. PC que sabe demais, nós todos sabemos, entretanto nos mantermos calados com medo de que o vaso rachado da democracia se quebre de uma vez. Sinto ter que lembrar aos leitores que o senhor presidente Itamar Franco era vice de Collor e se compôs com ele durante o período de campanha eleitoral. Ora, é certo que, como muitos outros, ele pode alegar que Collor o enganou e que todas as maracutaias foram feitas a sua revelia; foi assim tão ingênuo quanto muitos empresários, que alardeavam no passado ter colaborado com a campanha colorida para derrotar a ameaça petista. Todos foram assim enganados, até o povo, logo estão todos perdoados. Entretanto, os tubarões continuam os mesmos após a queda de Collor; como bem se diz, "quanto mais as coisas mudam, mais continuam as mesmas."

Desculpem-me, mas essa onda toda da prisão do PC é ridícula, para não dizer insuportável. O Brasil está desmoralizado, não é preciso nenhum PC para sabermos que a Justiça tem sido, na maioria do seu tempo, cega e venal. Todavia, o brasileiro vai vivendo, mesmo sem poder mais distinguir a fantasia da vida real. O que é verdade, o que é mentira? A festa do Ibrahim Sued no Copa (urn luxo só), ou o flagelo dos doentes abandonados nas macas dos corredores dos hospitais (miséria só)? Real ou irreal? Na TV as imagens são surrealistas, Felini adoraria e Freud não acreditaria em tanta loucura!

O que podemos fazer? Nada, pouco ou surpreendentemente muito, como vem sendo apresentado pela campanha institucional do Banco Bamerindus, "Gente que faz", capaz de enternecer e despertar esperança nos nossos coraçõee com a apresentação das realizações pessoais de brasileiros exemplares. Cada um no seu mundo particular desenvolve inacieditáveis potenciais, e assim demonstram que são eles os sólidos alicerces deste País, capazes de o sustentarem durante os períodos difíceis, quase de calamidade. É incrível, mas, na hora do "vamos ver", quem segura e manda no destino do País são as figuras anônimas desconhecidas das luzes televisivas e da poderosa "mídia." É essa "Gente que faz" que conduz essa nau pelo mar da vida, e é certo que não vão ser os PCs, os Fernandos Collors e outras laranjas podres que vão impedir o seu avanço. As frutas estragadas serão jogadas fora, não irão contaminar as outras frutas do cesto, seja pela mão da Justiça ou pelas mãos dos brasileiros íntegros. Sim, porque ainda existem muitos brasileiros íntegros, brasileiros que não seguiram o exemplo de bandalheira e bandidagem dado por muitos poderosos. Gente essa considerada ignorante e mal informada mas que está disposta a lutar para colocar este País no seu, lugar merecido. Gente para qual ser íntegro e honesto não tem nada demais, não é virtude nem mérito, mas sim uma obrigação natural.

Não, não devemos nos desanimar, nem perder as esperanças, todos nós podemos fazer algo para o Brasil sair desse sufoco, podemos começar pela nossa própria vida, o nosso dia-a-dia, podemos mudar de verdade as coisas se primeiro mudarmos nós mesmos.

Bia Botana é análista político

VIVER POR VIVER



Quinta-feira, 1/7/93

Viver por viver

BIA BOTANA

Não é mera coincidência que o surgimento da cocaína como droga popular esteja atrelada a um estado caracteirzado pelos acontecimentos que ocorrem em ritmo alucinante. A disseminação das drogas (LSD, maconha, ópio, haxixe, cocaína e suas variações, etc), a partir da década de 60, transformou o mundo, redimencionando a condição humana e transformando a sociedade, de modo que nos anos 80 a explosão mundial da cocaína fez com que as pessoas sofressem suas reações mesmo sem se drogarem, pois os fatos passaram a ocorrerem atrelados a ela, ocasionando euforia e exagerada segurança, seguida de depressão, dependência e de síndrome de abstinência, alternando tempo de valentia com tempo de covardia. Agora, nos anos 90, a humanidade está drogada, já que existem drogados em todos os setores da sociedade. Não é de admirar que aqueles que permanecem lúcidos fiquem cada dia mais estarrecidos.

A droga não está no submundo, não é coisa só de criminoso, ela está infiltrada em todas as países. Geradora de grandes fortunas mágicas, ela se infiltrou nas elites que traçam os caminhos da sociedade. Deixemos de ser cínicos, ela está entre nós, não podemos mais fechar os olhos para essa realidade que foi criada para ela e que nos impede de viver como nos bons tempos: vivendo por viver.

Sim, houve um tempo em que as pessoas viviam por viver, sern considerar felicidade ou tristeza, perdas ou ganhos, vitória ou derrota, alegria ou sofrimento, tudo isso era vida e havia tempo para viver cada uma dessas situações, assimilá-las e realizá-las sem conflitos maiores, porque vivia-se um dia por vez e ninguém era atropelado por acontecimentos sobressaltantes geradores de ansiedades constantes, enfim, a loucura não estava solta.

Atualmente, todo mundo tem que ser feliz, vitorioso, rico e alegre, determinam-se metas de sucesso constantes, que geram cada vez mais altas expectativas em relação ao destino, seja no campo profissional ou no campo afetivo de auto-estima ou mesmo o do amor. Ora, está tudo errado! Tamanho sucesso não existe na vida comum, desfrutada por mais de 90% dos seres humanos. Logo passou a existir um número sem fim de pessoas frustradas e com isso a inveja prospera e o desejo pela luxúria contemporânea chega a deixar muitas pessoas doentes enquanto corrompe a tantas outras.

Vejam agora o que aconteceu nestes últimos anos no Brasil. Temos vivido nesse ritmo maluco sem previsão nem planejamento, parecendo um país de doidos, se não pudéssemos verificar que o mesmo fenômeno ocorre no resto do mundo. Mais recentemente, pudemos ver o fim que tiveram as expectativas irreais criadas em torno do ministro Fernando Henrique Cardoso, que no curto espaço de um mês teve a sua imagem idolatrada de super-herói esfacelada pelo descrédito, situação que fez ressurgir o fantasma do golpe antidemocrático. Sinto dizer, mas tal situação que fez ressurgir o fantasma do golpe antidemocrático parece coisa de criança birrenta, que fica quebrando o brinquedo novo para ganhar outro, ou pior, de forma masoquista na expectativa do castigo paterno. Graças à bondade divina, as nossas Forças Armadas são sábias e estão cansadas das fúteis suscetibilidades dos filhos da Pátria, preferem deixá-los aprender sozinhos que ter liberdade não é ser libertino e irresponsável.

O ritmo cocaína só tem feito mal ao Brasil. A fome, o crime, a inflação, a recessão e tantos outros males são conseqüências dessa droga, que freqüenta com a mesma naturalidade os salões das elites como os becos sujos das favelas. Não há diferença entre um drogado rico e um pobre, ambos são alienados, não obstante um empresário drogado pode causar mais dano à sociedade que um gari.

Talvez devêssemos parar para pensar, talvez a sucessão de fatos fantásticos e emocinantes não seja necessariamente a certeza de uma vida gratificante, talvez devamos ponderar se uma vida sem tanta explosão de adrenalina pode ser muito mais construtiva e prazerosa. Está em nós mudarmos e dizermos não à loucura. Já vimos que a sociedade cocaína não nos trouxe nada de bom, voltemos a viver por viver, para deixar o Brasil viver tarnbém.

Bia Botana é analista política

VAIDADES PESSOAIS




Sexta-feira, 25/06/93

Vaidades pessoais

BIA BOTANA

Nada como as festas juninas para ajudar o processo de detonação do PAI, assim chamado o Programa de Ação Imediata elaborado pelo ministro Fernando Henrique Cardoso. O certo é que o Plano Verdade não decolou e não vai decolar. Está sim recebendo bombardeios por todos os lados, são talvez os fogos de São João. A falta de transparência e as atitudes contraditórias do governo têm colaborado para que a deliberação da detonação do plano comece a ocorrer com eficaz rapidez e com isso perdemos todos nós, pois os princípios que dimensionam o Plano Verdade estão corretíssimos, se vierem a ser bem aplicados em curto espaço de tempo. Vejamos na real, o que significam US$ 6 bilhões em relação a US$ 234 bilhões? Muito pouco, na verdade, então por que estaria ocorrendo tanta mobilização da classe política para negociar os cortes no Orçamento? Não pretende o governo atender na lista de prioridades as prioridades mais urgentes? O que vem ocorrendo é uma chantagem vergonhosa que permeia a distribuição de cargos a futuros cabos eleitorais em troca do apoio ao governo, e é a isso, um jogo de cartas marcadas, que os nossos políticos chamam de democracia!

Talvez a melhor coisa que poderia acontecer para o Brasil, e para a sua saúde econômica, seria que o povo exigisse eleições já, ou que o presidente Itamar Franco tivesse a coragem de tomar a iniciativa e convocá-las de modo a dar uma parada nessa politicagem das composições partidárias e em outros vícios políticos que vêm comprometendo o exercício democrático brasileiro. Se tal medida ocorresse, não haveria tempo para arrecadações de verbas, tanto dos cofres públicos como dos particulares, para as campanhas eleitorais. As malas pretas dos lobistas não teriam tempo de corromper durante a revisão constitucional, por exemplo. O Brasil faria uma grandiosa economia, além das contas da União se equilibrarem magicamente, pois o povo não teria de pagar um preço tão alto para ter um governo democrático; teríamos a certeza da eleição de políticos competentes, já que só os bons políticos teriam capacidade para se eleger, em razão do pleno atendimento que deram ao seu eleitorado durante o exercício do seu mandato. A antecipação das eleições de 1994, portanto, seria uma medida salutar para dar início ao fim da comrpção.

O fato é que as campanhas eleitorais brasileiras se tornaram extremamente dispendiosas. O custo de um voto no Brasil atingiu a cifra louca de US$ 20, enquanto nos EUA é de US$ 7 e na França é de US$ 5. A única razão possível para um custo tão caro do voto talvez esteja na questão de as reservas destinadas às campanhas também servirem para financiar não só a boa vida dos candidatos, a exemplo do ocorrido com o ex-presidente Collor, como para influenciar decisões políticas futuras no Congresso e em outros setores do governo.

Pobre ministro Fernando Henrique Cardoso, seu plano não tem e não terá a menor possibilidade de funcionar nos termos democráticos propostos, do momento que o seu nome foi vinculado como candidato à presidência da República. A razão é óbvia, não precisa ser nenhum psicanalista para saber que o ciúme político dos seus companheiros de lida será, e já é, o único motivo que impedirá e se oporá ao seu sucesso.

É mehor nos prepararmos para tempos mais difíceis ainda do que vivemos no presente. Foi acesa a fogueira das vaidades pessoais, e essa fogueira poderá incendiar todo o País se o seu ardor não for imeàiatamente restringido. Será bom lembrar que nestes últimos nove anos, ou quem sabe desde o princípio da abertura política no governo Geisel, a classe politica e o Estado nunca foram considerados culpados da ação inflacionária, esta sempre delegada a uma população tachada de especuladora e impatriótica. Como diz o dito popular: "Pimenta nos olhos dos outros não arde." Só por ter tido o peito de dizer as coisas como realmente são o ministro Cardoso já passou para a história, mas poderia ter destaque nela se detonasse seus detonadores, dando um basta à roubalheira política que enlameia a democracia brasileira.

Bia Botana é analista política

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

UM POVO PERPLEXO



Quarta-feira, 16/6/93

Um povo perplexo

BIA BOTANA


Não sei se alguém já percebeu, mas a palavra mais usada ultimamente é perplexo. Todo mundo se diz perplexo, e não é para menos. Estrá aí mais um plano econômico chamado por seu autor de "verdade", mas vinculado pela imprensa como "FHC'' que pode significar "Farmácia Honorária do Cruzeiro" (Cruzeiro era o nome da moeda brasileira na época), ou quem sabe "Fantástico Herói do Cruzeiro" ou então uma versão bizarra de "Fantoche Hilário do Cruzeiro", mas cuja intelpretação correta, desta sigla irreverente, é o nome do nosso valoroso ministro da Fazenda, professor e senador Fernando Henrique Cardoso, que, mesmo não sendo uma instituição salvadora e missionária, recebeu uma tarefa digna de Hércules: conter a atual inflação brasileira, que se encontra na casa dos 2.200% ao ano, façanha esta que, se realizada, poderá tornar o ministro Cardoso o novo Péricles desta era.

Só para termos uma idéia da magnitude do problema econômico brasileiro, voltemos ao passado. No ano de 1963, a inflação atingia a assustadora marca dos 81,3%, e quando em 1964 ela atingiu 91,9%, ocorreu a intervenção militar. Em 1973, a inflação atingiria 15,5%, um índice espantoso e até inacreditável em relação ao Brasil atual. A política econômica então adotada parecia ser um sucesso e prometia ao Brasil um lugar de destaque na economia mundial. Mas foi então que ocorreu a fatalidade, quando neste ano, em outubro, eclodiu a guerra no Oriente Médio em razão das ambições territoriais israelenses, e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo decidiu adotar o embargo do fornecimento do petróleo árabe, levando o preço do barril do óleo às alturas, o que ocasionou o desequilíbrio da balança comercial dos países importadores de petróleo, entre eles o Brasil. 

O governo Geisel legou ao seu sucessor uma inflação anual de 43% , que em 1979 chegaria a 57%. No dia 18 de abril daquele ano, o governo Figueiredo anunciaria primeiro pacote econômico anti-inflacionário, inaugurando a era dos planos econômicos milagrosos. A inflação não reverteu a curto prazo como esperado e, em 1982, o índice atingiu 95% ao ano, em razão do Plano Reagan adotado pelos EUA, em 18 de abril, o qual determinou o aumento das taxas de juros ("prime-rate") e com isso supervalorizou o dólar no mercado internacional. O chamado "setembro negro" chegaria, obrigando o governo brasileiro a iniciar um penoso processo de renegociação da dívida externa, que o fez apelar contrariado ao Fundo Monetário Internaciaonal, atitude essa que fora até então adiada por todos os meios disponíveis.

Em 1983, o quadro econômico deteriorou-se ainda mais, uma inflação de 152% ao ano. A partir de então, a inflação passaria a recrudescer e de três dígitos passou para quatro, num processo acelerativo que assola a vida dos brasileiros, um povo perplexo com a "indústria da inflação", capaz de enriquecer alguns do dia para a noite, de permeio a especulação e a corrupção, enquanto empobrece a grande maioria sem acesso aos mecanismos dessas pouco sérias riquezas.

Antes do anúncio do seu plano "verdade", o ministro Cardoso se disse "absolutamente perplexo"com a reação de certos políticos, que reclamavam maior participação nas discussões sobre o plano de ação do governo. Ora, a perplexidade do ministro se devia muito mais ao comportamento discutíveI desses políticos, mais preocupados com as nomeações ao segundo e terceiro escalões do governo, tão necessários às negociações políticas às próximas eleições, e com os ameaçadores cortes orçamentais –  sim, pois é difícil saber quem não participará das próximas eleições e haja dinheiro para bancar tatas campanhas –, do que com o combate à inflação. Portanto, não foi de admirarque o ministro Cardoso fosse também a Roberto Marinho, o todo-poderoso cidadão kane e porta-voz dos 300 empresários que dominam a economia brasileira, pedir cooperação e o redimensionamento das ambições lucrativas do setor privado (leia-se oligopólios), para recolocar o Estado "funcionando dentro dos trilhos". 

O certo é que este plano manda um recado claro: chega de baderna! Resta agora que o governo e o ministro tenham pulso firme com esse bando de bagunceiros.

 Bia Botana é analista política

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Um povo pefplexo

BIA BOTA]{A

JUSTIÇA DIFÍCIL



Sexta-feira, 11/6/93

Justiça difícil

BIA BOTANA

A vida de uma criança índia vale mais que a de uma criança nordestina? Um nordestino não teria direitos iguais ao índio? Não é o índio um brasileiro? Como explicar então que índios tenham direito a vastas áreas territoriais para sua sobrevivência enquanto tantos outros brasileiros não possuem nem um palmo de terra para plantar um pé de alface que seja? Quero ser índio, já!!!

Sem dúvida, a realidade brasileira de 1988, que permitiu a exacerbação da proteção ao índio na Constituição, não é a mesma que se apresenta nos dias atuais. Com isto, a bandeira indígena, então defendida nos últimos anos com fervor ideológico temerário, conseguindo mobilizar grandes personalidades mundiais em campanhas defensivas dos índios amazônicos e chegou a acaloradas discussões no Senado norte-americano, perdeu sua idéia-força por falta de sustentação justa. Não foi de estranhar que no dia mundial do meio ambiente, no último dia 5 de junho, desta vez os índios nem foram lembrados. É inegável que no momento existem problemas mundiais muito mais sérios.

É difícil, no presente, convencer qualquer consciência justa e equilibrada de que índios tenham mais direitos à sobrevivência que qualquer outro ser humano. Assim como é difícil aceitar que os índios devam ficar limitados nurna reserva sem contato com o mundo civilizado, como se fossem animais num zoológico, não obstante tal medida se justifique como forma de preservar a cultura indígena, assim como a subsistência e perpetuação da raça. Serão eles animais ou seres humanos?

A atitude paternalista de certos antropólogos e ecologistas de condenar os índios ao estado primitivo sem lhes dar a opção de escolha é questionável, pois impede o processo de integração racial característico da evolução humana. A própria história da humanidade narra a convivência, embora nem sempre pacífica, de grupos humanos com características civilizatórias mais avançadas ou mais primitivas num mesmo momento temporal. A narrativa do historiador grego Heródoto sobre os Citas demonstra como sempre existiram grandes diferenças de estágios culturais entre os grupos humanos numa mesma época.

Excluir um ser humano do processo evolutivo e condená-lo a um estado de primitivismo é tão injusto quanto negar-se o direito a alguém de uma educação e formação adequadas ao seu tempo. E negar conhecimento subtraindo informações que permitam seu desenvolvimento e progresso. Se não houvesse havido interação cultural entre os primitivos alamanos e os civilizados rornanos, a atual civilização ocidental não teria surgido.

E de admirar-se que, contrariando a própria natureza, neste século, a interação racial não ocorra, e que, ao contrário, defenda-se a segregação. Como compreender que pessoas que se dizem sectários humanistas não vejam o crime que cometem ao rejeitarem projetos viabilizadores da integração dos índios à civilização contemporânea com cuidada assistência. Talvez não percebam que desta maneira só fazem retardar o curso natural dos acontecimentos, quando não instigando situações geradoras de graves conflitos. É interessante e relevante lembrarmos que, quando os europeus chegaram à África, a população indígena da raça negra encontrava-se em franco processo de extinção. Por ironia da vida, o comércio escravagista pela a América e o extrativismo desenfreado das riquezas minerais africanas é que viriam garantir a sobrevivência da raça negra e o seu recrudescimento.

Ninguém pode afirmar taxativamente que a convivência do índio, em especial das tribos amazônicas, com a raça branca seja uma condenação a um processo de extinção indígena. Ao contrário, poderá até ser a salvação desta raça humana. Está mais do que na hora de repensarmos a questão indígena e passarmos a ver o índio como um ser humano igual a nós e não como um animal em extinção, um ser irresponsável. Temos muito o que aprender um com o outro, hoje, amanhã e sempre.

Bia Botana é analista política

FORA DE MODA



Quarta-feira, 2/6/1993

Fora de moda

BIA BOTANA

Se uma pessoa desejar experimentar a sensação de ser estúpida nestes dias, basta tão-somente ser honesta. Mas é lógico que ninguém gosta de se sentir estúpido, não obstante este seja um sentimento cada vez mais costumeirol não há quem não o experimente pelo menos uma vez ao dia, não sendo preciso ir muito longe. Para vivê-lo é só colocar a mão na carteira para fazer qualquer tipo de pagamento e a sensação de se estar sendo logrado de alguma forma virá imediatamente e será inevitável.

Assim também, ficar indignado porque pisaram a bandeira nacional ou defender a soberania territorial brasileira, por serem atitudes patrióticas inusitadas, permitirá acusações desconcertantes e a rotulação de nacionalistas, em seu sentido pejorativo, àqueles incautos que ainda ousam amar o solo pátrio, uma atitude de tolos e idiotas.

Por essas e por outras, é impossível não sentir-se uma certa nostalgia da moral de tempos passados, pois os valores que eram moda na aurora deste século se tornaram "fora de moda" neste seu momento de crepúsculo. Não, não nasci na época vitoriana, nem conheci o rufar das trombetas das disputas imperialistas, muito menos conheci a exaltação do nacionalismo. Para espanto de muitos, pertenço à chamada geração "baby-boom". nasci no meado da década de 50, alguns anos após a exploração da bomba atômica, num mundo dividido entre leste-oeste, capitalismo-comunismo, EUA-URSS, portanto, nasci apavorada sabendo que também poderia ser explodida a qualquer hora, de qualquer dia da minha vida.

A geraçào "baby-boom" também é a geração "rock-and-roll". E aquela que resolveu derrubar todas as barreiras, que disse que era proibido proibir, usou como "slogan" as palavras paz é amor, defendeu o amor livre e a tal amizade colorida, assim como inaugurou o "casa-separa". Foi também a geração do jeans-tênis-camiseta, dos costumes orientais, do "baseado" (weed) e outras drogas mais, da alimentação macrobiótica, do naturalismo e dos primeiros ecologistas, entre outras coisas. Uma geração "animal", como dizem os jovens de hoje, que desejou mudar o mundo como tantas outras, mas fez algo incrível e fantástico: fez uma mudança de l80 graus em todos os sentidos civilizatórios, principalmente no que tange aos costumes e ao aspecto moral. Tudo bem, tem que se reconhecer que foi um grande feito, mas o que fará essa geração  com o mundo caótico que criou?

Acredito que alguns como eu olhem para seus cabelos brancos e, com algum desespero, assumam a sua parte de responsabilidade com o mundo que está aí, e desejam, por isso, resgatar algo que inexplicavelmente foi deixado para trás: os valores que sempre sustentaram as bases sociais e garantiram assim a sobrevivência humana por milênios. Esses valores sempre caracterizaram a humanidade e distanciaram o ser humano de sua condição animal, assim como o diferenciaram dos outros seres vivos, e são: a solidariedade, a hombridade e a dignidade. A partir desses valores é que se erguem todos os outros valores humanos que permitiram a existência de mais de seis mil anos de civilização.

Esses valores podem ter sido esquecidos, chegaram até a ser considerados fora de moda, como o são hoje, fato este que não devia ter acontecido. É nossa obrigação tomarmos providências urgentes, nós que fomos tão vanguardistas, tão revolucionários, nós que tivemos a temeridade de quebrar leis e tradições; nós agora devemos ser intrépidos como no passado erguermos sem tardança um panteão a esses três valores humanos virtuosos, para que jamais venham a ser esquecidos por outras gerações, nem desconsiderados como o foram pela nossa.

Não podemos permitir que se prossiga nessa perda de valores cada vez mais dramática, que poderá comprometer, com a violência e o crime, o futuro da sociedade humana. Não existe vergonha em se reconhecer um erro, vergonha haverá em não corrigi-lo.

 Bia Botana analista política

A CALHA NORTE E NÓS



Quarta-feira, 26/5/1993

A Calha Norte e nós

BIA BOTANA

Voce, leitor, sabe dizer o que é projeto Calha Norte? Conhece, por acaso, a importância estratégica desse projeto para o futuro do Brasil? 

Se você respondeu "sim" é um privilegiado e pertence a uma minoria bem informada, que sabe o que acontece no Brasil. Agora, se você respondeu "não", saiba que você integra 99% da população brasileira que só fala o mesmo "papo" sobre as infindáveis trocas ministeriais. Não se envergoúe disso, afinal a culpa não é sua, leitor, é que a Calha Norte não era notícia até agora. Foi preciso mais de uma centena de soldados norte-americanos virem praticar "inocentes" e incomuns manobras na vizinha Guiana, para que, por magia, a "mídia" se lembrasse das riquezas incalculáveis ocultas no vasto território amazônico, principalmente ao norte do rio Solimões-Amazonas, onde se localiza o eterno Eldorado brasileiro.

Pequeno será este espaço para descrever e explanar a relevância do projeto Calha Norte para todos nós brasileiros. Planejado em 1985, no início do governo Sarney, teve sua implantação a partir de 1986. A princípio idealizado para uma ação conjunta de diversos órgãos governamentais com as Forças Armadas, objetivando criar uma faixa fronteiriça com 150 quilômetros de interiorização ao longo das fronteiras internacionais dos estados de Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, criando tanto condições efetivas de colonização como também a integração das comunidades indígenas locais no contexto nacional, hoje o projeto Calha Norte reflete unicamente o esforço militar ern preservar as nossas fronteiras. As Forças Armadas, mesmo desaparelhadas e sem recursos financeiros, asseguraram a implementação de grande parte das metas, estabelecidas à revelia de seus parceiros, não obstante tão valoroso esforço pioneiro esteja fadado ao esquecimento, apesar de todo o benefício traazido às populações carentes daquela região nestes últimos sete anos, em razão da postergação irresponsável da União para liberar as verbas que assegurem a continuidade necessária do projeto.

Além das dificuldades econômicas dos últimos anos, o proieto teve seus objetivos comprometidos a partir de 1989, devido à terrível pressão internacional sobre as questões da região amazônica, que resultou na absurda demarcação da reserva indígena Yanomami em área contínua ao oeste do estado de Roraima, em maio de 1992, pelo presidente Collor, abrindo um precedente que vem permitindo a presente reivindicação de uma segunda demarcação na região da Raposa-Serra do Sol, apesar de a comunidade indígena local estar plenamente integrada e participar da produção agropecuária, assim como ter também expressiva participação cidadânica e política. Caso aprovada mais esta reserva, um número não maior que 6.000 índios deterão a posse de dois terços do estado de Roraima, além de ficar completamente livre de ftscalização 60%  da faixa fronteiriça internacional do Estado nas divisas com Venezuela e Guiana.

Como se não bastasse o confronto acima descrito, que conta com o apoio da FUNAI e seus interesses políticos, o projeto também enfrenta a inimizade dos ambientalistas do Primeiro Mundo, que na verdade representam os interesses contrariados dos seus países, já que a implementação civilizatória da região gerará riquezas incalculáveis em matérias-primas, sem comprometer a biodiversidade da região, mas podendo comprometer seriamente o atual quadro econômico mundial, como ficou constatado na V Assembléia do Parlamento Amazônico, realizado recentemente em Brasília, no Senado Federal, do qual pouco ainda se falou.

A grande importância do projeto Calha Norte está em sedimentar solidamente a posse territorial brasileira, de modo a impedir a aventura predatória e também que os conflitos fronteiriços venham a constranger o País, por propiciar com sua negligência uma "Calha do Crime", pois, como bem diz Floyd Clarke, subdiretor do FBI: "A medida que se abrem as fronteiras e a movimentação é livre, os países se expõem a uma verdadeira polinização do crime, pois o crime ignora cada vez mais as fronteiras". Só não vê o perigo quem não quer. Apóie o Calha Norte,

Bia Botana é analista política

ALGO ESTÁ ERRADO



Quinta-feira, 20/5/93

Algo está errado

BIA BOTANA

Se fixarmos nossa atenção no cotidiano das principais manchetes jornalísticas do País, poderemos fazer uma coletânea dos maus hábitos adquiridos pelos homens contemporâneos que se dedicam à vida pública. Não é de espantar que esses personagens constituam a classe mais desacreditada de todas as sociedades do planeta. Este fato merece toda a nossa atenção, pois nos permite verificar que a presente crise política brasileira, responsável maior por todos os outros males que atingem a Nação, possui seu tempo e lugar no processo histórico mundial, como se comprova na Itália, Rússia, Espanha e França, onde não faltam casos escandalosos sobre o mau uso dos bens Públicos.

Neste final de milênio, termo que insisto em usar, apesar de algumas pessoas me considerarem dramática, se contesta e se analisa não só o comporlamento surrealista dos homens públicos e líderes políticos, mas também a moral sobre a qual se alicerçam os códigos penais, que limitam e punem um indivíduo através da aplicação das penas da lei que restringe a liberdade de cada sociedade, segundo os seus cosfumes e cultura. A íntima relação existente entre a cultura de uma sociedade e suas leis determina os valores morais dela dentro de um período temporal e por conseguinte a sua história. Por exemplo, de acordo com o antigo livro chinês das Transmutações, o "I Ching", o ganho por meios censuráveis, desde que não tragam prejuízos a outras pessoas e cuja ação esteja impregnada de sinceridade, não envolve culpa nem erro (Hexagramas 41 e 42). Tal moral veio a despertar em Confúcio um comentário sobre aquela tradição de que "o fato de se conseguir alguma coisa por meios condenáveis pode levar à suposição de que tais meios são naturais". Ora, mas não foram só os sábios orientais que admitiram que a corrupção faz parte da natureza humana a ponto de em determinados momentos se confundir com uma virtude. A própria Bíblia é um prato cheio de atos corruptos inexplicavelmente abençoados pelo deus dos hebreus Iavé. Caso típico é o do pobre Esaú, que foi duramente ludibriado por Jacó, seu esperto irmão gêmeo, que lhe roubou descaradamente a progenitura, como está descrito no livro do Gênesis, e cujo comportamento, de Jacó, é considerado correto por muitos crentes e justifica muitas das atitudes pouco dignas dos seguidores da moral judaico-cristã que rege a maior parte da moralidade atual.

Algo está muito errado no momento em que o Congresso de uma país como os Estados Unidos aprova uma lei que permite o "rapto" de qualquer individuo em solo estiangeiro se este for considerado inimigo dos EUA, e todos países do planeta aceitam o fato mudos, sem protestar. Algo está muito errado quando grandes banqueiros mundiais não questionam a origem dos volumosos depósitos em seus cofres. Afinal, ainda não existem cães farejadores para distinguir as criminosas fontes de dinheiro, e tudo é uma questão de usar a "lavanderia" certa... Assim, o FMI, mesmo não sendo de todo impoluto, pode intervir de maneira chantageosa e cínica sobre os chamados países de segunda classe como arauto da moralidade econômica. Algo está mais errado ainda quando sabemos de tudo isso e acabamos aceitando como coisa natural. Está errado, sim, é não vermos que o mundo já não é o mesmo e que o materialismo do poder econômico se tornou de tal forma grandioso que também determinou uma nova moral cujas leis não estão contidas em nenhum código penal. Esse é um mundo cão onde o poder do dinheiro torna um indivíduo acima da lei e lhe permite considerar o resto da humanidade imbecilizada.

A corrupção e o uso indevido dos bens públicos são crimes tão grandes quanto o latrocínio e o assassinato, por lesarem uma população, podendo ocasionar até o genocídio, como no Brasil. Não se pode banalizar o mal. A atual onda de crimes públicos não é só um problema a ser resolvido com severidade penal, mas é sobretudo um sintoma alarmante de uma sociedade viciada e doente, cuja cura ainda não foi descoberta.

Bia Botana é analista política

terça-feira, 15 de novembro de 2011

FORÇAS DESARMADAS



Terça-feira, 11/05/93

Forças desarmadas

BIA BOTANA

No ano de 1968, podia-se protestar dando-se uma longa tragada no cigarro, para depois soltar uma baforada fedorenta e rebelde para esfumaçar arrogantemente o ar. Vinte e cinco anos depois pode-se encontrar o mesmo rebelde, agora cheio de anos, apagando o cigarro no cinzeiro, e com um gesto de raiva jogar ambos no cesto de lixo acompanhados do estimado isqueiro e da carteira recém-aberta de cigarros. 

A atitude de revolta pode ser encontrada nos dois casos em situações diferentes. No primeiro caso, ela se manifesta contra uma consciência externa e superior que aparenta limitar a liberdade do indivíduo, já no segundo caso, a consciência interior da pessoa reconhece a autolimitação de sua liberdade através de um ridículo vício.

Pode parecer estranho, mas é possível traçar-se uma analogia entre a tolice de fumar e a busca do ideal democrático dentro do recente quadro político brasileiro. Em 1968, protestar contra os militares que haviam tomado o poder e tirado a liberdade do povo era a máxima intelectual da época. Mas a verdade era outra, como poucos ousam ainda hoje dizê-lo, caso de Elio Gaspari, que em seu recente artigo na "VEJA" denunciou: "Quem dá golpe no Brasil são os gatos gordos da vida civil" e fechou seu pensamento dizendo "... e, quando a festa acabou, jogaram a tortura na conta das Forças Armadas e foram lamber os beiços em Paris."

Políticos, como o sr. Ulisses Guimarães, fizeram toda uma geração acreditar que a democracia era o paraíso a ser alcançado e que daria a solução para todos os problemas brasileiros. Quando, em 1984, os temíveis generais não reprimiram o movimento das "Diretas-já" e deram de bandeja o governo nas mãos dos políticos e civis, a população surpreendeu-se, crendo-se vitoriosa sobre a ditadura. Ledo engano. Quase nove anos depois desse fato, o povo brasileiro se encontra muitas vezes mais desesperado e anseia sedento pela ordem ou um milagre que lhe dê condições sociais, políticas e econômicas que permitam o trabalho honesto e uma digna sobrevivência. Queremos apagar o fogo do Congresso. como se pudéssemos apagar um cigarro. Queremos nos livrar dos políticos como nos livramos de um maço de cigarros inútil. E por fim queremos nos esquecer da tal democracia, como esquecemos de um vício que não deu tanta satisfação quanto esperávamos.

Cada dia que passa, mais e mais olhos buscam ansiosos a segurança protetora das Forças Armadas, que durante a Eco-92 demonstraram que o Rio de Janeiro pode ser uma cidade segura e viável. Mesmo que seja à custa da presença ameaçadora dos canhões, muitos cariocas desejariam que aqueles dias de segurança não findassem. Apesar dessa isolada demonstração de poder, na realidade nestes últimos nove anos as Forças Armadas também foram abandonadas a um cruel destino, e como o resto do País, também vieram a se encontrar ameaçadas pela miséria.

Sem recursos e investimentos durante esse período, o custeio e manutenção das Forças Armadas foi destituído de importância dentro das prioridades políticas, apesar de sua grandiosa responsabilidade para a tranquílidade e a segurança da Nação. Transformadas em Forças Desarmadas pelos nossos ignorantes políticos, temerosos de perderem novamente o poder de ludibriar a população, as Forças Armadas não possuem, como em 1964, todo o poder para garantir a resposta ao pedido de socorro que virá, quando acorrerem para seus braços a classe média e o empresariado apavorados, ao verem o Brasil se desintegrar, caindo como um frágil castelo de cartas.

O absurdo do estado em que se encontram as Forças Armadas é um contrassenso histórico, já que é facilmente comprovável que a estabilidade de uma nação reside no seu poder bélico mesmo em tempo de paz. O Brasil já se tornou presa fácil para as ambições gananciosas de certos grupos internacionais duvidosos, que não hesitam em financiar tortuosos caminhos políticos para melhor dominar o País. Defender o pronto reequipamento das Forças Armadas e investimentos que lhes devolvam seu digno papel institucional é o que nos resta para impedir o fim caótico do País. E melhor parar de fumar que morrer de câncer.

Bia Botana é analista política

PAI DA PÁTRIA



Sábado, 1/5/93

Pai da Pátria

BIA BOTANA

Ser analista político, no presente momento do cenário brasileiro, é uma função de extrema dificuldade exigindo que tenhamos o dom de pitonisa ou mago para sua prática arguta, isto em razão de ser impossível se prever o caminho político-econômico futuro do País. Todavia, apesar de não termos o poder de prever o futuro, é nossa obrigação imaginar as possibilidades mais racionais de um porvir com base no presente e nos recentes acontecimentos.

O plebiscito de 2l de abril revelou que o povo brasileiro ainda esta à espera de um "Pai da Pátria". Um conceito tão próprio e antigo da humanidade que deu origem aos desapreciados reis, um arquétipo saído da monarquia que transvestiu a república, a imagem de um homem superior com poder de tutelar a vida de muitos.

O povo preferiu a imagem heróica do líder saído do seu seio, mesmo que sua origem aristocrática não o dentifique plenamente como fiel representante popular, e que na verdade para esse líder a defesa dos interesses do povo não seja relevante além das promessas eleitorais, Pode parecer absurdo, mas somos fascinados pelas situações utópicas e teimamos em concretizá-las mesmo conhecendo seus desastrosos resultados. Entretanto, apesar de preferência popular de uma República Presidencialista, a pendente revisão da Carta de 1988 poderá transformar fundamentalmente a representação do papel presidencial, e o "Pai da Pátria" não terá então tanto poder como o que lhe é conferido, atualmente.

O povo não sabe, mas votou num sistema de governo que estará sujeito a grandes reformas, que, em caso de serem aprovadas durante a revisão constitucional, darão ao Brasil um sistema híbrido presidencialista. Essas reformas pretendem, pois, limitar as atribuições presidenciais e dar mais poder de fogo ao Congresso. Propõe-se não só a redução do mandato presidencial, mas também que o presidente tenha a maioria parlamentar necessária para colocar seu programa de ação. Com tais medidas, poder-se-á aperfeiçoar o presidencialismo, o que pressupõe um Congresso forte, de forma que deputados e senadores tenderão a irnpor uma: parceria mais estreita com o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios. 

Essas reformas no presidencialismo serão bem-vindas, já que o presidencialismo "imperial" vigente está ultrapassado, sendo só próprio das nações subdesenvolvidas e caracteriza-se como um sistema antidemocrático. Mas esse projeto político evoluclonista não pode ser dado como certo, já que está comprometido com a discussão que envolve a realização ou não da próxima revisão constitucional, marcada para outubro, deste ano, a qual poderá ser adiantada ou até postergada.

O destino do País da decisão sobre o destino da revisão da Carta de 1988, quer seja abrangente ou restrita, poderá dar novos rumos à política brasileira, e, em caso de sua realização, constituir-se-á em meios para impedir que o ocupante do cargo de "Pai da Pátria" exorbite o poder e garantir que os direitos individuais dos cidadãos brasileiros venham a ser enriquecidos pela jurisprudência, de forma a transmitir a tranqüilidade e o bem-estar para o exercício do trabalho produtivo a eles, assim como dando-lhes meios de vencer a crise econômica crônica que os assola.

Para isso será mais que necessário que os atuais congressistas se embuam de valores patrióticos verdadeiros e façam um trabalho sério e rápido, pois vale lembrar que esse Congresso já se encontra em fim de mandato e não chegou a elaborar a legislação complementar precisa à Constituição de 1988. Assim sendo, o que se poderá esperar da revisão constitucional? Mais uma vez exigir responsabilidade legislativa é o que nos resta, para nos opormos que um pretenso "Pai da Pátria", que será eleito em 1994, se transforme num malfazejo padrasto.

 Bia Botana é analista política

SANTO OU MONSTRO?



Quarta-feira, 28/04/93

Santo ou monstro?

BlA BOTANA

Como acertadament€e o disse Howard Fast "somos tãoo confusos acerca do bem e do mal que alguns homens se tornam santos e outros se tornam monstros". Ao contrário do que se possa pensar, a justiça não foi algo criado por Deus, mas sim pelos seres humanos. A antiga Lei de Talião, "olho por olho, dente por dente", que remonta há tantos milênios, sobrevive até os nossos dias, apesar de todo o evolucionismo civilizatório, estando presente nos mais ínfimos atos cotidianos de cada um de nós.

Quisera podermos construir um mundo que correspondesse ao ideal que temos de justiça, mas, quanto mais buscamos realizá-lo, mais impomos a retaliação. Como poderemos então proceder para mudarmos essa lamentiível condição humana? Jesus nos propôs que "amássemos ao próximo como a nós mesmos', ou que não fizéssemos a este o que não desejamos para nós. Seria a solução perfeita, porquanto essa proposta não fosse tão grandiosamente sobre-humana que, passados quase dois mil anos, ainda não a conseguimos cumprir, além de ter colocado em dúvida o próprio conceito de justiça da humanidade.

O mesmo tem se dado em relação à almejada democracia. Conscientemente, todo cidadão a considera um ideal político-social a ser alcançado e realizado. Entretanto, surpreendemo-nos com a dificuldade enorme de implantá-la em sua pura essência na sociedade, de tal modo que por vezes nos questionamos, devido a nossa incompreensão dos acontecimentos, se ela é um bem ou um mal.

O plebiscito de 2l de abril, mais do que outra coisa, colocou em dúvida a realidade democrática brasileira, e nós nos surpreendemos com a confusão sentida por não sabermos defini-la em termos reais e concluirmos que só possuíamos uma conscientização de um ideal pouco claro e um tanto confuso. Saímos desse plebiscito da mesma forma que entramos: com cruéis dúvidas sobre o futuro do nosso País.

Muitos brasileiros, de uma forrna ou de outra, e com suas convicções próprias, têm tentado contribuir para a construção de um País melhor, todavia a nossa grandiosa "Torre de Babel" se mantém inabalável, porque, apesar de todas essas contribuições, não obtemos uma união, um consenso comum que nos faça parar de caminharmos para direções opostas.

O Brasil, o nosso amado Brasil, torna-se a cada dia que passa um verdadeiro cadinho cultural do mundo, razão de suas idiossincrasias anacrônicas, que a todos confundem e assustam, por revelarem um possível futuro porvir da própria humanidade.

Sabemos que o vitorioso de hoje poderá ser,o grande derrotado de amanhã, que o resultado das urnas plebiscitárias mede na verdade a conscientização política brasileira e revelou absurdas incoerências sofismais. Uma análise acurada desse resultado só poderá ser feita dentro de algum tempo, quando muito do que estava oculto durante as campanhas plebiscitárias se revelar à luz da implensa e da "mídia". Enquanto isso, todo brasileiro sofrerá na carne as conseqüências dramáticas do expirar do governo Itamar. Esses apreensivos momentos finais terão o poder de determinar ou um futuro próximo catastróÍico ou o início de um período construtivo e promissor. Dependendo do resuliado, o presidente poderá passar para a história com a imagem de um santo ou de um monstro. Esse é o ônus para toda pessoa que tem a coragem de se dedicar à política, pois não bastam boas intenções, são necessários também atos firmes e arrojados. Aquele que não deseja esse destino devia pensar antes e, como Sócrates, se abster de envolver-se com as coisas públicas para não macular a sua honra, não obstante, por ironia da vida, tenha sido justarnente a sua omissão cidadânica a causa de sua condenação e morte, na primeira democracia da história.

Bia Botana analista política

21 DE ABRIL: O COMEÇO DA LUTA



Terça-feira, 20/04/93

21 de abril: o começo da luta

BlA BOTANA

Por ocasião do final da campanha plebiscitária, a Monarquia foi criticada impiedosamenie por seus rivais. Não faltaram ataques chulos, repletos de inverdades, que mais desconcertantemente demonstravam a ignorância da história do Brasil do que comprovavam a incorreção de comportamento do período monárquico. As incriminações falsas lançadas pelos presidencialistas e parlamentaristas só fizeram reafirmar a tradição perversa do uso de mentiras para sustentarem a nossa falaciosa República, cuja nobreza de seus ideais foi, desde a sua implantação. abandonada em prol de uma elite gananciosa de poder.

Todavia, a surpreendente reação agressiva de última hora dos republicanos tem sua razão de ser, já que, no transcorrer da campanha plebiscutária, o movimento monarquista, ao contrário do que se esperava, cresceu dia após dia, apesar de este fato não ter sido devidamente divulgado pelos órgãos de pesquisa de opinião pública. Para espanto geral, a Monarquia se apresenta como o grande azarão do plebiscito, a "zebra" que pode dar.

O crescimento do movimento monarquista se deu de maneira silenciosa, sem passeatas escandalosas, sem falsos protestos. A Monarquia foi conquistando os corações dos brasileiros, e seus símbolos começaram a ser empunhados orgulhosamente. A razão disso talvez esteja, como alguém já o disse, no fato de o movimento não ser mais uma tentativa, mas sim uma alternativa. Em sua mais pura essência, a Monarquia defende a ética, a moral, a solidariedade, a estabilidade de valores e, sobretudo, uma amplitude democrática ainda desconhecida de todos os brasileiros. A imagem do monarca real moderna é engrandecida, pois guarda em si a representação legítima do povo, de forma que rei e povo sejam uma só identidade, e flrque afiançada a soberania popular sobre o Estado burocrático e político, impedindo que seus dirigentes possam implantar uma ditadura de Estado, seja na pessoa do governante, seja através dos representantes do povo. O alto cornpromisso obrigatório do rei com o povo impede suas ligações políticas, para que possa exercer com plena liberdade o seu poder de grande vigilante e guardião dos direitos constitucionais e dar as garantias de liberdade individual e de cidadania, sem as quais nâo se ergue uma nação democrática.

No passado, a Monarquia, contra a vontade das elites da época, aboliu a escravatura negra, e, por isso, sofreu o golpismo republicano em represália do seu liberalismo. Hoje, a Monarquia nos oferece nova libertação: a abolição da escravatura dos brasileiros do Estado ditatorial republicano, que vem exercendo seu domínio alimentando uma falsa crise econômica, onde o fantasma inflacionário adquire a forma de um dragão devorador e dá motivos à formulação de leis sórdidas que permitam aos governantes roubarem cada vez mais o povo.

O movimento monarquista almeja dar um fim a esta situação mentirosa em que vivemos e mostrar a verdadeira cara do Brasil, a cara de uma das maiores potências mundiais, ao mesmo tempo que deseja dar ao povo brasileiro a parte justa que lhe cabe das fantásticas riquezas produzidas neste País, e que no momento se encontram nas mãos vis de salteadores impatrióticos.

Enganam-se aqueles que pensam que o movimento monarquista findará com o plebiscito, que, diga.se, teve sua data ardilosamente precipitada com o fim de impedir o devido esclarecimento da população. Preparem-se, corruptos e falsos democratas, porque os monarquistas continuarão a lutar. Não importa qual seja o resultado plebiscitário, os símbolos patrióticos monarquistas continuarão a conquistar os peitos brasileiros em defesa da honestidade e da grandeza de princípios. Cada monarquista se tornará um soldado disposto a derrubar todos aqueles que queiram impedir os avanços democráticos e insistam em propagar no solo brasileiro a corrupção. A luta se inicia ern 21 de abril, pois existe em nossos corações a vontade de dar aos nossos filhos um País do qual se orgulhem, e cujos governantes jamais voltem a jogar na lama o nome da Pátria e a envergonhar a Nação brasileira.

Bia Botana é anatista política

O BRASIL DO TERCEIRO MILÊNIO





Terça-feira, 13/04/93

O Brasil do terceiro milênio

BIA BOTANA

Com a aproxirnação do terceiro milênio da nossa era, uma sucessão de acontecimentos convulsivos nos deixa perplexos. O final do século passado, tal como este, não foi fácil. As transformações que ocorreram também foram tão cruciais que tiveram como resultado duas guerras mundiais de calamitosas dimensões. O recém-nascido ser humano moderno, deste final de segundo milênio, não só se mostrou muito mais poderoso que seus antepassados, mas também, apesar de todo o seu avanço científico e tecnológico, se revelou de grande desumanidade.

Os últimos levantamentos feitos pela ONU demonstraram que dois terços da humanidade são constituídos de miseráveis - em números, representam mais de 3 bilhões e 500 milhões de pessoas! Para se ter idéia dessa catástrofe e de suas proporções, é preciso saber-se que nos primeiros anos deste século a população mundial constituía-se de pouco mais de 1 bilhão de pessoas, e até então o crescimento populacional do mundo obedecia ao aumento médio de 250 milhões de pessoas por século, quando não menos.

A explosão demográfica do século XX, que deu ao mundo, em tão pouco tempo, mais de 4 bilhões de seres humanos - num total atual de mais de 5 bilhões e 500 milhões de pessoas, equivalente à soma das populações existentes previstas nos últimos dois mil anos –, teve como conseqüência o surgimento de bolsões de miséria espalhados por todo o mundo, não sendo estes exclusividade da Ásia, África e América Latina. A miséria está também em Miami, Nova lorque, Paris, Amsterdã e Londres, do mesmo modo que pode ser encontrada nas favelas do Rio de Janeiro e São Paulo.

Pouco ou nada sabemos da miséria que vem assolando o chamado Primeiro Mundo, pois, além de esta não ser divulgada, é convenientemente omitida. É portanto normal que nós brasileiros acreditemos que a crise da miséria seja só nossa, o que é um ledo engano. O que torna a nossa crise mais aguda é que o Brasil é um País grande, mas não é um grande País. O que isso quer dizer é que, apesar de sermos o 4o. País do mundo em extensão territorial, o 5o. em população e sermos a 9a. economia mundial, nossa importância no cenário mundial se tornou praticamente nula com o fim da dita Guerra Fria. Enquanto, há poucos dias, a ameaça do impeachment do presidente-russo fez com que a Eurora e os EUA prontamerte oferecessem fabulosos auxílios financeiros à antiga grande inimiga, com o fim de estabilizar a economia daquele país e afastar uma ameaça de guerra civil, o impeachment de Collor não causou a mesma repercussão, nem ninguém ofereceu ao Brasil algum dinheiro para conter o nosso iminente caos social.

Lógico, é tudo uma questiio de estratégia. Uma guerra civil na Rússia arrasaria com toda a Europa, enquanto uma guerra civil no Brasil só daria a oportunidade, tão esperada, aos EUA de intervirem de maneira direta no seu quintal. Graças a Deus, aqui até revolução é na base do carnaval!

O Primeiro Mundo está inseguro, pois o lixo humano gerado pela moderna sociedade contemporânea ameaça devorá-lo com novas hordas bárbaras. A crise mundial da miséria está tomando proporções incontroláveis, porquanto está atrelada ao estado irracional emergente no ser humano quando ameaçado em sua sobrevivência, o que o torna o mais voraz animal predador.

Nós podemos não ser um grande país, mas por sermos um país grande podemos contar com volumosos recursos próprios. A crise mundial da miséria poderá não nos atingir se lançarmos mão da abundância que possuímos, e, mesmo sem contar com a ajuda estrangeira, arregaçarmos as mangas e investirmos no trabalho árduo, e com garra nos dispormos a darmos um futuro ao Brasil, no século XXI, de acordo com a sua grandeza, e o tornemos um grande País.

Bia Botana é analista política