SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

FORÇAS DESARMADAS



Terça-feira, 11/05/93

Forças desarmadas

BIA BOTANA

No ano de 1968, podia-se protestar dando-se uma longa tragada no cigarro, para depois soltar uma baforada fedorenta e rebelde para esfumaçar arrogantemente o ar. Vinte e cinco anos depois pode-se encontrar o mesmo rebelde, agora cheio de anos, apagando o cigarro no cinzeiro, e com um gesto de raiva jogar ambos no cesto de lixo acompanhados do estimado isqueiro e da carteira recém-aberta de cigarros. 

A atitude de revolta pode ser encontrada nos dois casos em situações diferentes. No primeiro caso, ela se manifesta contra uma consciência externa e superior que aparenta limitar a liberdade do indivíduo, já no segundo caso, a consciência interior da pessoa reconhece a autolimitação de sua liberdade através de um ridículo vício.

Pode parecer estranho, mas é possível traçar-se uma analogia entre a tolice de fumar e a busca do ideal democrático dentro do recente quadro político brasileiro. Em 1968, protestar contra os militares que haviam tomado o poder e tirado a liberdade do povo era a máxima intelectual da época. Mas a verdade era outra, como poucos ousam ainda hoje dizê-lo, caso de Elio Gaspari, que em seu recente artigo na "VEJA" denunciou: "Quem dá golpe no Brasil são os gatos gordos da vida civil" e fechou seu pensamento dizendo "... e, quando a festa acabou, jogaram a tortura na conta das Forças Armadas e foram lamber os beiços em Paris."

Políticos, como o sr. Ulisses Guimarães, fizeram toda uma geração acreditar que a democracia era o paraíso a ser alcançado e que daria a solução para todos os problemas brasileiros. Quando, em 1984, os temíveis generais não reprimiram o movimento das "Diretas-já" e deram de bandeja o governo nas mãos dos políticos e civis, a população surpreendeu-se, crendo-se vitoriosa sobre a ditadura. Ledo engano. Quase nove anos depois desse fato, o povo brasileiro se encontra muitas vezes mais desesperado e anseia sedento pela ordem ou um milagre que lhe dê condições sociais, políticas e econômicas que permitam o trabalho honesto e uma digna sobrevivência. Queremos apagar o fogo do Congresso. como se pudéssemos apagar um cigarro. Queremos nos livrar dos políticos como nos livramos de um maço de cigarros inútil. E por fim queremos nos esquecer da tal democracia, como esquecemos de um vício que não deu tanta satisfação quanto esperávamos.

Cada dia que passa, mais e mais olhos buscam ansiosos a segurança protetora das Forças Armadas, que durante a Eco-92 demonstraram que o Rio de Janeiro pode ser uma cidade segura e viável. Mesmo que seja à custa da presença ameaçadora dos canhões, muitos cariocas desejariam que aqueles dias de segurança não findassem. Apesar dessa isolada demonstração de poder, na realidade nestes últimos nove anos as Forças Armadas também foram abandonadas a um cruel destino, e como o resto do País, também vieram a se encontrar ameaçadas pela miséria.

Sem recursos e investimentos durante esse período, o custeio e manutenção das Forças Armadas foi destituído de importância dentro das prioridades políticas, apesar de sua grandiosa responsabilidade para a tranquílidade e a segurança da Nação. Transformadas em Forças Desarmadas pelos nossos ignorantes políticos, temerosos de perderem novamente o poder de ludibriar a população, as Forças Armadas não possuem, como em 1964, todo o poder para garantir a resposta ao pedido de socorro que virá, quando acorrerem para seus braços a classe média e o empresariado apavorados, ao verem o Brasil se desintegrar, caindo como um frágil castelo de cartas.

O absurdo do estado em que se encontram as Forças Armadas é um contrassenso histórico, já que é facilmente comprovável que a estabilidade de uma nação reside no seu poder bélico mesmo em tempo de paz. O Brasil já se tornou presa fácil para as ambições gananciosas de certos grupos internacionais duvidosos, que não hesitam em financiar tortuosos caminhos políticos para melhor dominar o País. Defender o pronto reequipamento das Forças Armadas e investimentos que lhes devolvam seu digno papel institucional é o que nos resta para impedir o fim caótico do País. E melhor parar de fumar que morrer de câncer.

Bia Botana é analista política

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