SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

SER BRASILEIRO















Sexta-feira, 26/2/93


SER BRASILEIRO

B. BOTANA

O Carnaval brasileiro é um exemplo único no mundo de alegria e confraternização popular na folia. Porquanto em seus dias de festa os problemas desaparecem nas bolhas das espumantes cervejas geladas e são exorcizados com o gingar das mulatas ao rufar primitivo dos tambores, pandeiros, cuícas e tamborins. Travestidos em personagens lúdicos, os brasileiros brincam entre a fantasia e a ilusão, refugiados da realidade na pura magia bacante.

Ah! Que país maravilhoso é este! Uma terra pródiga com seus filhos, que os inebria com sua abundante beleza de muitas auroras. Esse tempo de magia carnavalesca faz renascer em nossos corações um patriotismo cultural esquecido, reduzindo a tolas e mesquinhas as nossas disputas regionais. Na verdade, unidos, de norte a sul e de leste a oeste, somos um "Brasilzão".

Pois ser brasileiro é mais que ser paulista, nordestino, carioca; gaúcho, capixaba ou qualquer outro regionalismo.

Ser brasileiro é ser Brasil, de corpo inteiro.

Ser brasileiro é ser de tudo um pouco. É ter a sabedoria da selva dos nossos índios e a força das águas colossais da pororoca do Amazonas ou da queda retumbante do lguaçu. É saber fazer renda do Ceará, pois mais linda não há. Ser poeta em Olinda, lavar as escadas do Bonfim e ofertar flores a Iemanjá. É tocar o berrante levando a boiada pelos pastos à beira do Araguaia e depois sonhar ao pôr-do-sol nas asas das garças do Pantanal. É cavalgar na paz dos prados verdes dos pampas, mergulhar nas águas cristalinas dos Abrolhos, beber chimarrão no inverno e água de coco no verão. Do poder empreendedor que nasce na Paulista pegar um pouco de intrepidez e ir fundo com a coragem da bravadora sulista. Debaixo dos coquerais, ao sabor da brisa e ao som das ondas do mar, fazer preguiça na re-
de é essencial. É abraçar a terra na Esplanada dos Ministérios e ouvir o pulsar do coração do País no Planalto Central. É desfilar na Avenida e conseguir chegar vitorioso na Apoteose e depois, embriagado dessas riquezas, sentir destemido um doce amor a invadir o peito, que te faz esquecer de ti, a abandonar as críticas crônicas e te transforma todo em calor de vida.

Não é de admirar que sejamos invejados pelos outros povos; tanto temos de graça sem que precisemos lutar contra as forças hostis da Natureza para sobreviver.

Mas em março, quando passar a ressaca carnavalesca, voltaremos ao nosso duro trabalho de tornar o Brasil um país desenvolvido e com uma civilizaçâo comparável à existente no hemisfério Norte. Um objetivo a ser alcançado, mas muito distante de nossas raízes culturais.

O ano de 1993 finalmente irá começar; com a vergonhosa miséria nacional, com a inflação impiedosa, com novos programas econômicos exigentes de sacrifícios, com utópicas propostas políticas e com toneladas de problemas para serem resolvidos por todos nós.

Apesar desse triste retorno à crua realidade, ninguém vai deixar o samba de lado. Ele vai estar sempre ali, suavizando a dureza do nosso dia-a-dia até o próximo Carnaval chegar com muito samba, suor e cerveja.

E não há brasileiro que daqui tenha partido para terras distantes que não seja tomado, após algum tempo de ausência, de contrita saudade e se surpreenda com uma lágrima intrometida ao ser lembrado da Pátria querida, e que no regresso, com emoção envergonhada, não deixe de cantarolar um sambinha chegando ao Galeão. Porque, não obstante a sedução dos países ricos, é sempre bom voltar para esta terra onde o povo é tão incongruente, mas é tão humano!

B. Botana é analista político

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