SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

UM POVO PERPLEXO



Quarta-feira, 16/6/93

Um povo perplexo

BIA BOTANA


Não sei se alguém já percebeu, mas a palavra mais usada ultimamente é perplexo. Todo mundo se diz perplexo, e não é para menos. Estrá aí mais um plano econômico chamado por seu autor de "verdade", mas vinculado pela imprensa como "FHC'' que pode significar "Farmácia Honorária do Cruzeiro" (Cruzeiro era o nome da moeda brasileira na época), ou quem sabe "Fantástico Herói do Cruzeiro" ou então uma versão bizarra de "Fantoche Hilário do Cruzeiro", mas cuja intelpretação correta, desta sigla irreverente, é o nome do nosso valoroso ministro da Fazenda, professor e senador Fernando Henrique Cardoso, que, mesmo não sendo uma instituição salvadora e missionária, recebeu uma tarefa digna de Hércules: conter a atual inflação brasileira, que se encontra na casa dos 2.200% ao ano, façanha esta que, se realizada, poderá tornar o ministro Cardoso o novo Péricles desta era.

Só para termos uma idéia da magnitude do problema econômico brasileiro, voltemos ao passado. No ano de 1963, a inflação atingia a assustadora marca dos 81,3%, e quando em 1964 ela atingiu 91,9%, ocorreu a intervenção militar. Em 1973, a inflação atingiria 15,5%, um índice espantoso e até inacreditável em relação ao Brasil atual. A política econômica então adotada parecia ser um sucesso e prometia ao Brasil um lugar de destaque na economia mundial. Mas foi então que ocorreu a fatalidade, quando neste ano, em outubro, eclodiu a guerra no Oriente Médio em razão das ambições territoriais israelenses, e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo decidiu adotar o embargo do fornecimento do petróleo árabe, levando o preço do barril do óleo às alturas, o que ocasionou o desequilíbrio da balança comercial dos países importadores de petróleo, entre eles o Brasil. 

O governo Geisel legou ao seu sucessor uma inflação anual de 43% , que em 1979 chegaria a 57%. No dia 18 de abril daquele ano, o governo Figueiredo anunciaria primeiro pacote econômico anti-inflacionário, inaugurando a era dos planos econômicos milagrosos. A inflação não reverteu a curto prazo como esperado e, em 1982, o índice atingiu 95% ao ano, em razão do Plano Reagan adotado pelos EUA, em 18 de abril, o qual determinou o aumento das taxas de juros ("prime-rate") e com isso supervalorizou o dólar no mercado internacional. O chamado "setembro negro" chegaria, obrigando o governo brasileiro a iniciar um penoso processo de renegociação da dívida externa, que o fez apelar contrariado ao Fundo Monetário Internaciaonal, atitude essa que fora até então adiada por todos os meios disponíveis.

Em 1983, o quadro econômico deteriorou-se ainda mais, uma inflação de 152% ao ano. A partir de então, a inflação passaria a recrudescer e de três dígitos passou para quatro, num processo acelerativo que assola a vida dos brasileiros, um povo perplexo com a "indústria da inflação", capaz de enriquecer alguns do dia para a noite, de permeio a especulação e a corrupção, enquanto empobrece a grande maioria sem acesso aos mecanismos dessas pouco sérias riquezas.

Antes do anúncio do seu plano "verdade", o ministro Cardoso se disse "absolutamente perplexo"com a reação de certos políticos, que reclamavam maior participação nas discussões sobre o plano de ação do governo. Ora, a perplexidade do ministro se devia muito mais ao comportamento discutíveI desses políticos, mais preocupados com as nomeações ao segundo e terceiro escalões do governo, tão necessários às negociações políticas às próximas eleições, e com os ameaçadores cortes orçamentais –  sim, pois é difícil saber quem não participará das próximas eleições e haja dinheiro para bancar tatas campanhas –, do que com o combate à inflação. Portanto, não foi de admirarque o ministro Cardoso fosse também a Roberto Marinho, o todo-poderoso cidadão kane e porta-voz dos 300 empresários que dominam a economia brasileira, pedir cooperação e o redimensionamento das ambições lucrativas do setor privado (leia-se oligopólios), para recolocar o Estado "funcionando dentro dos trilhos". 

O certo é que este plano manda um recado claro: chega de baderna! Resta agora que o governo e o ministro tenham pulso firme com esse bando de bagunceiros.

 Bia Botana é analista política

alal.a-o

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BIA BOTA]{A

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