SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A CULTURA DO GOLPE



Quarta-feira, 1/9/93

A cultura do golpe

BIA BOTANA

O Brasil está andando no fio da navalha. só quem é cego não vê que tem algo errado acontecendo no País. E difícil determinar quando começou o mal, mas se tornou evidente após o plebiscito, quando se abriram as discussões sobre a revisão constitucional.

O caldo golpista se fez anunciar nos primeiros dias de maio com cara de extrema direita ao som de protestos militares. Veio junho com o 8" Encontro Nacional do Partido Trabalhista (PT) em Brasília. A vitória dos "xiitas" esquerdistas sobre os social-democratas delineou o PT como partido de extrema esquerda. socialista do chamado "socialismo real", disposto a "tencionar e esgarçar os limites da ordem existente", acentuando o aspecto revolucionário. Chegou julho e as bandeiras começaram a ser levantadas, tanto pelos saudosistas do esquema militar, quanto pelos que desejam ressuscitar o velho "socialismo real" enterrado peia Europa. Nada foi mais abismante do que poder constatar a perda de identidade dessas facções antagônicas ao adotarem o mesrno discurso.

O triste acontecimento da Candelária foi o estopim, o momento de ruptura que permitiu agosto chegar anunciando o "Golpe Branco", que passaria pelo Congresso Nacional com a possível renúncia de Itamar Franco. Enquanto isso, a questão da revisão constitucional já se mobilizava, agindo corno um divisor de águas. Agosto mês de doido, razão possível à inesperada "histeria indígena", tão bem descrita pelo jornalista Jorge Oliveira, que atingiu autoridades e a mídia. O massacre fantasma dos yanomami foi a explosão da cultura do golpe, atingindo um contexto internacional sem precedentes.

Em meio à fúria indigenista passou despercebida a presença, na última semana de agosto, do diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), Hans Blix, que veio pedir ao Brasil que se comprometa com o acordo que estabelece o uso exclusivo de energia atômica para fins pacíficos, isto é, que se submeta ao monitoramento vigilante da AIEA e jogue fora sua independência tecnológica nuclear. Curioso é saber que o Brasil vem desenvolvendo, com sucesso, inúmeros projetos nucleares, entre eles o do ciclo do combustível a partir do urânio, o qual, por coincidência, pode ser encontrado, em abundância, numa das maiores reservas mundiais. nas terras demarcadas dos Yanomami. Curioso, sim, muito curioso. É como se estivéssemos montando um quebra-cabeça.

Uma outra peça perdida desse enigma é a da CPI da Privatização, onde o relator. o senador Amir Lando (PMDB-RO), não escondia de ninguém, a semana passada, o seu desespero por não conseguir denunciar à mídia as falcatruas que estão sendo praticadas. Ninguém quer ouvi-lo, por quê? Porque não interessa ao "grande irmão" como interessou o impeachment.

Estamos em setembro, o caldo engrossou; o que parecia ser sandice está virando cultura golpista, que abriga a cada dia um maior número de histéricos fanáticos, que, apesar de opostas ideologias, convergem para um único propósito. Eles não escondenr mais que conspiram e instigam contra a atual ordem. Estão infiltrados como vermes traiçoeiros na sociedade e a minam em sua já frágil segurança.

A quem interessa tudo isso que está acontecendo? Quem vai lucrar com o caos? A direita, a esquerda, que no Brasil continuam inabaláveis, ou o poder estrangeiro? Afinal, quem é o inimigo?

Precisamos urgentemente de respostas antes que cheguemos à beira do precipício, de onde não haverá mais volta.

Bia Botana é analista política

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