SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

ENFOQUE POLÍTICO



Jornal de Brasília

Sexta-feira, 11/2/1994

Enfoque político

BIA BOTANA

Quando um estrangeiro chega nesta terra paradisíaca, tão distante da dura realidade vivida pelos habitantes do hemisfério norte global, neste momento assolado por um inverno tenebroso e mortífero, vem à sua mente uma única pergunta: "O que está errado com o Brasil?"

Sim, nós temos tudo para sermos uma grande nação - um solo fértil na maior parte da extensão territorial, um clima previsível e tranquilo, as riquezas do subsolo são tão grandiosas que só é possível conhecer uma ínfima parte, o mesmo se dando com a fantástica biodiversidade luxuriante; a costa marítima se revela um tesouro incomensurável, em harmonia perfeita se apresenta sem acidentes intransponíveis num reflexo de toda bem-aventurança dessa terra propícia à glorificação da vida humana.

Lembro desde a infância ouvir uma .anedota s€em graça sobre o Brasil. Dizia ela: "Que Deus havia criado o mundo e cuidara especialmente de uma regiâo da Terra, onde colocara tudo de melhor da sua obra. Esse lugar viria a se chamar Brasil, e em tudo se assemelhava ao Paraíso, Questionado por seus arcanjos por tanta benevolência e da injustiça que seria perpetrada com o resto da humanidade que habitaria em regiões tão inóspitas. Deus respondeu: "Aquietem-se em seus julgamentos e verão o povinho que colocarei sobre essa terra". 

Infelizmente, a resposta que todo estrangeiro terá a sua pergunta, é essa: "O que está errado com o Brasil é o seu povo".

Mas, será essa toda a verdade? Até que ponto podemos culpar o processo de ocupação humana dessa terra esplendorosa; suas raízes étnicas seriam a explicação única ao insucesso civilizatório brasileiro?

É mais que verdadeiro e facilmente constatável a existência de dois Brasis. Um teve sua ocupaçâo territorial caracterizada por sucessivas ondas migratórias estrangeiras, abrigando as mais diversas culturas, enquanto outro sofreu uma limitação nesse sentido, sofrendo influências culturais estrangeiras efêmeras, guardando em sua essência as origens coloniais primordiais. O que diferencia principalmente esse dois Brasis, além do inegável contraste cultural, são os enfoques políticos, que são também inteiramente distintos. O Brasil progressista, um cadinho de etnias e culturas, com uma população constituída de imigrantes sofridos e lutadores, foi obrigado a abandonar a filosofia política paternalista colonial que tão bem caracterizou o princÍpio deste século, e se adaptou à renovação constante da classe dirigente, abrindo assim um leque inesgotável de novas opções. O enfoque político: social, mais amplo e sujeito às mais diversas influências, mantém esse Brasil em sintonia afinada com os mais desenvolvidos países do mundo. Já o Brasil colonial fechou-se em si mesmo. A antiga aristocracia paternalista, aplicando um sistema isolacionista, conservou sua população imune às influências externas, mantendo-a ignorante e impedindo qualquer forma de progresso de massa, e através da pobreza manteve até nossos dias as rédeas do poder. A resistência às mudanças nessa região é assustadora, tornando-se um carmpo aberto aos arrivistas e aventureiros atrás do dinheiro fácil de uma sociedade que sobrevive à custa do dinheiro que flui de maneira inesgotável dos cofres públicos do Estado.

Mais assustador ainda é observar que há praticamente nove anos, desde a abertura democrática, é justamente essa elite do Brasil colonial que dirige o País, enquanto a elite do Brasil progressista perde cada vez mais espaço político.

É certo que o que está errado com o Brasil tem a ver com parte do seu povo, mas, principalmente, com a falta de vontade política dos representantes do Brasil progressista, que pouco fazem para lutar e implantar em todo o Brasil o enfoque político-social que possuem e extirparem do poder o conservadorismo paternalista colonial que condena grande parte da Nação brasileira, a um subdesenvolvimento conveniente a uma minoria aristocrática sedenta de vãs ambições impatrióticas.

Bia Botana é analista política e diretora-geral do Cebrade (Centro Brasileiro de Desenvolvimento)

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