SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

LADY THATCHER




Jornal de Brasília

Sexta-feira, 25/3/94

Lady Thatcher

BIA BOTANA

A recente visita de lady Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra do Reino Unido da Grã-Bretanha, ao Brasil, iniciando uma "tournée" pela América Latina, nos alerta para uma nova situação do País no contexto internacional, que merece atenção.

Pertencente ao partido "Tory", conservador, Thatcher ganhou fama internacional não só por ser a primeira líder política inglesa, em 160 anos, a se eleger ministra por três mandatos consecutivos, como também pelo seu governo ter sido marcado por um violento processo de privatização das estatais britânicas, obedecendo desta maneira à filosofia florescente do neoliberalismo, que prega o enxugamento do papel do Estado nas relações econômicas, limitando-o a uma atuação apenas social. O thatcherismo causou uma revolução mundial nos conceitos capitalistas. Os 11 anos de poder da "Dama de Ferro", de 1979 a 1990, trouxe grandes transformações econômicas, cujas conseqüências, principalmente na Europa, começam a se manifestar.

Assolada por um processo de imigraçâo incontrolável, a Europa abriga hoje mais de 15 milhões de imigrantes de todo o mundo. Só a Grã-Bretanha recebe mais de 50 mil imigrantes por ano, seja em razão do passaporte “Commonwealth”, que outorgou em 1926 a cidadania britânica a todos habitantes de suas ex-colônias, seja por asilo político. A imigração –   que originou um crescente multiculturalismo, onde, por exemplo, o fundamentalismo islâmico ameaça intervir nos sustentáculos institucionais e culturais das antigas tradições européias –  ­aliada ao progresso tecnológico, acabou por resultar na maior crise de desemprego já conhecida no capitalismo.

Se a África, no passado, era almejada à expansão territorial européia, na atualidade se tornou um foco de instabilidade à Europa. A desertificação africana e o primitivismo de sua sociedade impediram a implantação definitiva da civilização européia. Nessas circunstâncias, a Europa se vê obrigada a buscar novas soluções para sua necessidade de epansão, devido ao caos social existente.

Não é de admirar, portanto, que os europeus demonstrem um súbito interesse pela, até então, pouco valorizada América Latina.

Em relação ao Brasil, a parceria econômica com a Grã-Bretanha foi relevante até a década de 30, quando pelas mãos de Getúlio Vargas os Estados Unidos usurparam-lhe o lugar. O desinteresse dos EUA, a partir do democrata Jimmy Carter, pelo destino brasileiro se torna ainda maior agora com Bill Clinton. Esse descaso norte-americano, proposital ou não durante tantos anos, permite que os britânicos queiram recuperar seu antigo e destacado papel econômico.

Em verdade, a visita de lady Thatcher guarda uma ação de evidente "lobby" britânico. Ciceroneada em São Paulo pelos competentes empresários do Grupo Garantia – que reúne entre alguns de seus empreendimentos a Brhama, as lojas Americanas, a Artex e o Banco Garantia – , a respeitada “Dama de Ferro” deslumbrou-se com o alto grau de desenvolvimento daquela região e vislumbrou as possibilidades futuras de transferir unidades industriais européias ao Brasil, tornando-o um novo pólo atraente às imigrações que infestam o teritório europeu e um meio lucrativo de desviar a rota migratória. Seu discurso desestatizador e antiprotecionista ganha segundas intenções; empolga empresários brasileiros, acenando com vantajosas. "joint-ventures", enquanto, com seu raciocínio frio e calculista, prepara nova estratégia, que permita à Grã-Bretanha e seus aliados vencerem a guerra comercial deste final de século.

Que o Brasil não se engane com a generosidade das ofertas de investimentos europeus. Algo mais está em jogo, além dos trilhões de dólares que possuem - a falta de espaço territorial europeu é uma ameaça real à riqueza do nosso vasto território.

Bia Botana é analista política

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