SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O ASSASSINATO DA REVISÃO





Jornal de Brasília

Quinta-feira, 21/4/94

O assassinato da revisão

Uau! A revisão morreu! Morte morrida ou morte matada? "There is the question", diria Shakespeare. Todos indícios levam a crer que ocorreu um assassinato. Não, não foi premeditado, "seria necessário inteligência, aqui é terceiro mundo, ninguém planeja nada", diz meu amigo, jornalista experiente, no calor do debate e completa seu pensamento com um triste epitáfio: "O Brasil é um País infeliz".

Por que desta situação? Fatalismo ou predeterminação? Eu creio que não. O problema é mais cultural, advém da mentalidade. O Brasil não tem visão, não investe numa estratégia futura, só olha saudosista o passado e vive irresponsável o presente. Exemplo forte; dessa atitude destrutiva, foi a data estabelecida pelos constituintes de 88, para a revisão constitucional. Ninguém consultou uma agenda, nem previu contratempos, como o retardamento de seu início em outubro de 93 jogando-a em sua continúidade para 1994, ano este de eleições casadas, atípicas pela reformulação do quadro político. Mas isso é lógico não interessava, era o futuro e o futuro aos políticos é sempre problema do outro, e quem paga a conta somos nós, o povo.

A nova fase democrática, então, é um, pesadelo. Se vice-presidente tinha  fama de rainha da Inglaterra – ninguém vota nele, muito menos sabe-se quem é  –  isso mudou. Por obra do destino, nos últimos nove anos, os insignificantes vices viraram presidentes do Brasil. Quando nós queríamos Tancredo, porta-voz maior de uma nova ordem política, ganhamos Sarney, velho arenista da situação militar, um vira-casaca que deu ao seu governo caráter continuísta. Depois veio Collor, defensor dos descamisados e do liberalismo econômico. No poder jogou o discurso fora professando a corrupção. Impedido por aqueles que o elegeram fez do vice, Itamar Franco, seu pior legado político à Nação, tudo o que não se queria: um populista socialista como presidente. A figura obscura do vice se faz assim o monstro da nossa história recente.

Ao presidente Itamar Franco falta talento político, pior, não tem nenhuma vocação para o exercício do poder. Essas incapacidades o impedem de reestruturar a desmontagem, feita por Collor, dos sistemas governamentais, visando a instalação da corrupção e da roubalheira. Até agora Itamar nada fez, apesar do seu discurso ético, para inibir o mal processo em que se encontra o Estado. Sua posição fetal no Governo o induziu a buscar a proteção militar, pois ausente da negociação política, só lhe resta o escudo dos fiéis e disciplinados servidores da Pátria, eficientes e coerentes o bastante para sustentá-lo no Planalto até o final do mandato, não obstante os exponha como bodes expiatórios de sua intempestividade.

Se de um lado há no Poder Executivo um inapto que não sabe ser Presidente da República, do outro há o Poder Legislativo, com um Congresso Nacional que está sempre à reboque dos fatos e da história, incapaz de criar um movimento próprio. Enquanto isso o Poder Judiciário se vê obrigado a abandonar suas pertinentes funções para dirimir os eternos atritos entre os outros dois poderes. De tal forma que a independência entre os três poderes se tornou uma balela emperradora do desempeúo do Estado perante o povo.

A revisão foi assassinada. A CPI do Orçamento, o ano eleitoral, a ação das corporações e os contras foram só coadjuvantes na trama, enquanto o Congresso e o Judiciário foram cúmplices, visto que a arma do crime está nas mãos de Itamar. Sua omissão como coordenador político foi a ação mortífera que além de ter assassinado a revisão constitucional, tão urgente ao restabelecimento do Estado, também jogou o futuro do Brasil na lata do lixo. É, Paulo, você está certo, que País infeliz é este!

Bia Botana é analista política

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