SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O PRÍNCIPE



Jornal de Brasília

Quarta-feira, 23/02/94

O príncipe

BIA BOTANA

Uma longa temporada pelas plagas nordestinas, por falta absoluta de informações, constituiu-se num inesperado exílio da realidade brasileira. Enfatizo esse aspecto absurdo por estar primeiro em solo brasileiro e em segundo a poucos minutos de um centro urbano, uma capital. Fiquei pasma. Nunca, nem mesrro durante inúmeras viagens ao exterior, o contato com os acontecimentos brasileiros fora perdido desta maneira.

A única notícia relevante nacional – internacional não dava para cogitar -–foi milagrosamente estampada na primeira página dos ornais locais e narrava de maneira escandalosa um episódio carnavalesco envolvendo o presidente Itamar Franco com a ausência de peças íntimasmas da senhora, se assim pode ser chamada, que o acompanhava. O choque com a notícia não permitia nem elaborar um julgamento para algo tão inusitado em relação ao Presidente da República.

Já em Brasília, os jornais velhos forarn com avidez devorados, assimilando as notícias atrasadas, todas as informações perdidas ao longo dos 45 dias vividos num mundo de "faz-de-conta" de mexericos políticos provincianos. Conforme o contato com a verdadeira realidade brasileira se expandia, o pensamento formulava uma expressão única e resumida: "É o caos!"

A meditação trouxe uma lembrança distante do famoso livro de Niccoló Machiavelli, mais conhecido entre nós como Maquiavel, "O príncipe", de um trecho que diz:"... é preciso que o príncipe seja tão prudente que saiba evitar os defeitos que lhe tirariam o governo e praticar as qualidades próprias
para lhe garantir a posse dele...".

Com amargura e tristeza, vimos o presidente Itamar Franco infringir o mais óbvio dos códigos governamentais, a polida sobriedade. Sua atitude, tanto no sambódromo como no inadvertido lançamento da candidatura de Fernando Henrique Cardoso à Presidência, não só comprometeu seus pares como também intranqüilizou seriamente a Nação. Tornou-se impossível qualquer defesa. Se antes o Brasil, como uma nau, navegava em águas turbulentas, agora se encontra numa trágica deriva.

A conduta do Presidente se torna ainda mais criticável, considerando a delicadeza da atual circunstância do País onde os fatos se somam temerariamente: um descontrole inflacionário galopante, sem perspectiva de um acordo econômico que satisfaça os anseios da sociedade; um Congresso desacreditado por uma CPI do Orçamento que caminha para a tradicional "pizza"; uma revisão constitucional duvidosa, onde parlamentares até pensam em reformular o processo eleitoral para favorecer candidatos a candidatos a permanecerem em seus cargos e deles se beneficiarem até as vésperas das eleições; e, por fim, as inéditas eleições de outubro, que abrangem o Legislativo e o Executivo, no âmbito estadual e federal. Eleições explosivas, por obrigarem os partidos a complexas negociações em busca do maior número de cargos eletivos capazes de garantir o verdadeiro poder político do País a partir de 1995.

O presidente Itamar Franco, apesar da faixa presidencial, perdeu a posse do Governo. Sua presente amargura não se justifica e nem mesmo a ameaça de uma renúncia pode minimizar as conseqüências de sua conduta mesquinha, que desconsiderou a relevância do seu alto cargo e jogou o Brasil no caos. Agora, só nos resta perguntar quem terá coragem de se habilitar para salvar o Brasil.

Bia Botana é analista política

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