SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

ADEUS, CAMPEÃO!




Jornal de Brasília

Quarta-feira, 4/5/94

Adeus, campeão!

BIA BOTANA

A linda manhã convidava para uma caminhada até a Torre. A magia natural da endorfina ajuda a clarear o pensamento, não obstante a vista de lá do Eixo Monumental, símbolo maior de Brasília, despertar sublime emoção. Sentada à beira das borbulhantes fontes prateadas, o cantar inebriante das águas faz-me sempre sentir mais brasileira. O exaltado sentimentode amor à Pátria arrebata o ser por inteiro, dando forças para prosseguir-se na luta em prol de um Brasil melhor para todos.

Porque era sábado, a Torre estava hornada com barracas da feira artesanal, luxuriantes de criatividade. Crianças brincavam alegres descobrindo o antigo prazer das pernas-de-pau, enquanto ciganas coloriam como flores perdidas no verde gramado. Índios com roupas civilizadas, se diferiam com seus longos cabelos e brincos de osso. Engajados na militância política, aguardavam anciosos a concentração do PT  (Partido dos Trabalhadores) para a carreata, que se realizaria ao meio-dia. Eram 11h00  quando o alto-falante petisa quebrou o silêncio com sua pregação política anunciando a chegada do PT no poder. Em resposta ao estímulo, bandeiras vermelhas com suas estrelas brancas se agitaram em antecipada comemoração. Enquanto isso, a perua (o carro) que transportava a eloquente voz irreverentemente subia sobre o passeio público passando por cima do gramado. Sentada no meu posto de observação não pude deixar de pensar: "Começamos bem com este mau exemplo!"

A questão da presumível vitória do PT trouxe um devaneio sobreo destino imponderável, ou mesmo a mão de Deus. Desde o dia anterior, Ímola, na ltália, vinha se assemelhando a uma temível esquina da vida, com o acidente de Rubinho Barrichello e a morte do piloto austríaco naquela manhã. O futuro é sempre uma incógnita, não se deve comemorar a vitória antes da hora.

Passou o sábado, chegou o domingo, tendo os jornais estampados longas reportagens sobre o líder do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Dia 1º de Maio, Dia do Trabalhador, Lula deveria reunir em seu 1º comício, às 15h00, uma grande manifestação de apoio popular das esquerdas brasileiras. Isso era o previsto, mas o destino foi maior sobrepondo-se de maneira trágica e dramática, atingindo a vida de outro brasileiro, de nome também "da Silva".

Nove horas da manhã de domingo, milhares de TVs estão ligadas transmitindo o Grande Prêmio de San Marino. Após apenas sete voltas da corrida os corações brasileiros perplexos sofrem um espasmo de dor ao verem o carro de seu grande campeão, Ayrton Senna da Silva, lançar-se destruidoramente sobre o muro de proteção. Era o início da angústia, do suplício das multidões, que se prolongaria por horas. O brasileiro que dera certo, que se fizera herói nacional; que parecia imortal, padecia nas garras inclementes da morte. Orações se ergueram a espera de um milagre. Mas o milagre não veio e às l3h40 da tarde o campeão morria indefeso longe de sua terra e de seus adoradores, e com ele todos os brasileiros morreram também um pouco.

Destino que não se explica, que ceifa a vida daquele que só era esperança e vitória, que fazia de todos vitoriosos, que precisava viver pelo Brasil! Triste domingo que choramos a morte do nosso campeão fazendo-o refém de nossa lembrança, imorredoura luz da nossa saudade. Orfãos do nosso herói, órfãos da alegria.

Domingo o comício do PT foi calado por uma força poderosa, não foi a mão da repressão policial, mas pela mão de Deus, a força do sofrimento da Nação obrigada a testemunhar a tragédia do destino humano, que tornou insignificante as querelas mesquinhas da política nacional. Hoje estamos dizendo "Adeus, Campeão", amanhã talvez nós teremos que dizer "Adeus, Brasil", se também formos indiferentes aos presságios divinos.

Bia Botana é analista política


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