SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

CARAÍBA MINERAÇÃO




Jornal de Brasília

Quarta-feira, 15/06/94

Caraíba mineração

BIA BOTANA

Baby Pignatari, filho de Lídia Matarazzo e Júlio Pignatari, ficou mais conhecido por ser um brasileiro metido a "playboy" internacional do que por sua intrepidez empresarial. Jovem, defendeu com garra sua herança paterna, a Laminação Nacionalde Metais - LNM, de ser absorvidapelo poderoso conglomerado das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, de seu avô. Com pouco mais de 2l anos seu entusiasmo empreendedor arrebatou' a atenção do presidente Getúlio Vargas. que lhe daria franco apoio. Hábil negociador, Baby, introduziu com 'joint-venture" novas fábricas no Brasil, tais como a Rochedo e a Wolf. Com o advento da Segunda Guerra se tornou responsável pela primeira fábrica de munição armamentícia e depois pela fabricação do primeiro avião nacional, o Paulistinha.

Se Baby gostava de se divertir, gostava outro tanto de trabalhar. Dividia o ano em seis meses de diversão e seis meses de árduo trabalho. Quando sumia de circulação só os mais íntimos sabiam onde encontrá-lo: infurnado na laminação, levando uma vida espartana, com direito a curtos repousos num quartinho anexo ao modesto escritório.

Os anos de JK foram extremamente profícuos e deram a solidez desejada à LNM. Todavia a necessidade constante de importar cobre ­– de um mercado dominado pelos EUA e Chile –, para fabricação de perfilados, fios, tubos e etc., fez Pignatari almejar a implementação da exploração das minas de cobre brasileiras, de modo a viabilizar a auto-suficiênciado setor.

O governo militar a partir de 1964 abriu as portas ao sonho do empresário. A mina de Camacuã, no Rio Grande do Sul permitiu a exportação do cobre nacional processado a preços competitivos no mercado internacional. O sucesso da exploração rendeu ao empresário a concessão da mina de Caraíba, na Bahia. A recém-nascida Caraíba Mineração logo apresentou dificuldades para extração do metal, exigindo maiores investimentos, que obrigaram Pignatari recorrer a empréstimos governamentais. No ano de 1970, o Governo adotara uma nova política econômica com base na associação tripartite, entre empresas privadas nacionais, multinacionais e estatais. O Estado se transformou no maior agente econômico detendo, em l97l, 70% da economia nacional. Os recursos para investimentos fixos, tal como Pignatari necessitava, estavam quase totalmente na posse do Estado, por intermédio de bancos oficiais como BNDE.

Por motivos insondáveis, Baby, não conseguiu chegar a um acordo com o Governo, a Caraíba Mineração foi estatizada e depois Camacuã também sairia de suas mãos. Passados poucos anos, em 1978, o empresário com 68 anos faleceu solitário na sua mansão do Morumbí, em São Paulo. Seu desgosto com o Brasil fora tanto que abandonara a direção da LNM a estranhos, já deficitária, a laminação foi vendida em 1981, marcando o fim de um tempo.

Em maio último ocorreu o leilão de privatização da Caraíba Mineração, controlada pelo BNDE Participação, por ironia não recebeu nenhum lance, quanto ao leilão previsto para 6 de junho não há nenhuma notícia. Conclusão: hoje o Brasil continua dependente da importação de cobre e a auto-suficiência é um sonho perdido de um tempo onde ser empresário era ter coragem de correr riscos loucos de investimentos geradores de empregos e riquezas, e não. de especular na ciranda financeira para fazer fortuna fácil.

Baby Pignatari pode ter sido um empresário contraditório (que o diga Delfim Netto – diretor da LNM juventude e depois, quando ministro, intermediário na questão Caraíba – que bem o conheceu), mas se tivessemos alguns milhares de “loucos" como ele e um Estado menos intervencionista, o Brasil sairia do buraco, já que há bastante riqueza enterrada no solo desse País adormecido em berço esplêndido.

Bia Botana é analista política

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