Jornal de Brasília
Quarta-feira, 15/06/94
Caraíba mineração
BIA BOTANA
Baby Pignatari, filho de Lídia Matarazzo
e Júlio Pignatari, ficou mais conhecido por ser um brasileiro metido a
"playboy" internacional do que por sua intrepidez empresarial. Jovem,
defendeu com garra sua herança paterna, a Laminação Nacionalde Metais - LNM, de
ser absorvidapelo poderoso conglomerado das Indústrias Reunidas Francisco
Matarazzo, de seu avô. Com pouco mais de 2l anos seu entusiasmo empreendedor
arrebatou' a atenção do presidente Getúlio Vargas. que lhe daria franco apoio.
Hábil negociador, Baby, introduziu com 'joint-venture" novas fábricas no
Brasil, tais como a Rochedo e a Wolf. Com o advento da Segunda Guerra se tornou
responsável pela primeira fábrica de munição armamentícia e depois pela
fabricação do primeiro avião nacional, o Paulistinha.
Se Baby gostava de se divertir, gostava
outro tanto de trabalhar. Dividia o ano em seis meses de diversão e seis meses
de árduo trabalho. Quando sumia de circulação só os mais íntimos sabiam onde
encontrá-lo: infurnado na laminação, levando uma vida espartana, com direito a
curtos repousos num quartinho anexo ao modesto escritório.
Os anos de JK foram extremamente
profícuos e deram a solidez desejada à LNM. Todavia a necessidade constante de
importar cobre – de um mercado dominado pelos EUA e Chile –, para fabricação
de perfilados, fios, tubos e etc., fez Pignatari almejar a implementação da
exploração das minas de cobre brasileiras, de modo a viabilizar a
auto-suficiênciado setor.
O governo militar a partir de 1964
abriu as portas ao sonho do empresário. A mina de Camacuã, no Rio Grande do
Sul permitiu a exportação do cobre nacional processado a preços competitivos
no mercado internacional. O sucesso da exploração rendeu ao empresário a
concessão da mina de Caraíba, na Bahia. A recém-nascida Caraíba Mineração logo apresentou
dificuldades para extração do metal, exigindo maiores investimentos, que
obrigaram Pignatari recorrer a empréstimos governamentais. No ano de 1970, o
Governo adotara uma nova política econômica com base na associação tripartite,
entre empresas privadas nacionais, multinacionais e estatais. O Estado se transformou
no maior agente econômico detendo, em l97l, 70% da economia nacional. Os
recursos para investimentos fixos, tal como Pignatari necessitava, estavam
quase totalmente na posse do Estado, por intermédio de bancos oficiais como
BNDE.
Por motivos insondáveis, Baby, não
conseguiu chegar a um acordo com o Governo, a Caraíba Mineração foi estatizada
e depois Camacuã também sairia de suas mãos. Passados poucos anos, em 1978, o
empresário com 68 anos faleceu solitário na sua mansão do Morumbí, em São Paulo.
Seu desgosto com o Brasil fora tanto que abandonara a direção da LNM a estranhos,
já deficitária, a laminação foi vendida em 1981, marcando o fim de um tempo.
Em maio último ocorreu o leilão de
privatização da Caraíba Mineração, controlada pelo BNDE Participação, por
ironia não recebeu nenhum lance, quanto ao leilão previsto para 6 de junho não
há nenhuma notícia. Conclusão: hoje o Brasil continua dependente da importação
de cobre e a auto-suficiência é um sonho perdido de um tempo onde ser empresário
era ter coragem de correr riscos loucos de investimentos geradores de empregos
e riquezas, e não. de especular na ciranda financeira para fazer fortuna fácil.
Baby Pignatari pode ter sido um empresário
contraditório (que o diga Delfim Netto – diretor da LNM juventude e depois,
quando ministro, intermediário na questão Caraíba – que bem o conheceu), mas se
tivessemos alguns milhares de “loucos" como ele e um Estado menos intervencionista,
o Brasil sairia do buraco, já que há bastante riqueza enterrada no solo desse
País adormecido em berço esplêndido.
Bia Botana é analista política
Nenhum comentário:
Postar um comentário