SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O HOMEM SÓ





Jornal de Brasília

Quarta-feira. 1/6/94

O homem só

BIA BOTANA

O  que esperam Lula, FHC, Quércia, Amin e outros candidatos à Presidência da República? Será que possuem consciência plena dos poucos prós e dos muitos contras do ambicionado cargo? Estarão preparados para tão alta responsabilidade? Um rápido retrospecto dos últimos anos leva a concluir que o único homem que dominou plenamente a função presidencial, demonstrando inegável preparo, foi Ernesto Geisel. O seu período governamental marcou também o esplendor da figura poderosa de Golbery do Couto e Silva, que sem ter oportunidade de ser um estadista de fato transformou-se na maior eminência parda que o País já teve, só comparável na sua astúcia a Richelieu, Mazarino, Talleyrand ou Benjamim Franklin.

São assim, Geisel e Golbery, derradeiros exemplos de brasileiros forjados para o exercício do poder. João Figueiredo, pouco talentoso e atrabiliário, inaugurou a era de alta rotatividade ministerial e de desequilíbrio do Executivo. Decaído na sua influência, não foram poucos os motivos que conduziram Golbery a renunciar, em 12/08/1981, ao cargo de chefe do Gabinete Civil. Apesar de retirado da vida pública, Golbery serviu como sábio conselheiro e consultor até a sua morte, durante as graves e sucessivas crises, que passaram a abalar o País, em conseqüência da má orientação do processo de transição. Sem pulso forte para conduzir a continuidade do plano de abertura gradual e progressiva, iniciado no governo Geisel, Figueiredo jogou o Brasil num destino para o qual estava despreparado.

Figueiredo fez escolhas erradas, principalmente confiou em pessoas erradas, como foi o caso de José Sarney – então presidente do PDS e encarregado de coordenar a sucessão presidencial –, que o traiu descaradamente ao integrar a Frente Liberal (de dissidentes do PDS), e formalizar um acordo com o PMDB dando origem à Aliança Democrática, o que rendeu a Sarney a posição de vice de Tancredo Neves, depois, por capricho do destino, a Presidência da República.

A razão da ingovernabilidade surgida desde Figueiredo está no maior mal que atinge os presidentes brasileiros: a solidão do poder. O "não me deixem só" de Collor é a expressão disso. Despreparados emocionalmente, ao sofrerem as provações do exercício do cargo, todos demonstrraú visível falta do irdispensável estoicismo. Figueiredo, Sarney, Collor e Itamar não exitaram em destilar suas egoísticas insatisfações pessoais sobre o povo. Não se caracterizararn por ser indivíduos firmes, impassíveis e austeros. Não suportaram a maior adversidade do poder: o peso inexóravel de decisão, que recai sobre um homem só, o presidente da República.

Pretender a Presidência é fácil, governar quem poderá? Sabem os candidatos que país é este? Não é um "paiseco", é, sim, um gradioso e complexo país, onde na sua vasta extensão territorial sobeja uma flagrante diversidade econômico-social aliada a um desconcertante "melting-pot" cultural, frageis guardiães de insondáveis riquezas, objeto de pretexto estrangeiro para solapar a soberania do País. Como pode, assim, alguém dizer que 'governar o Brasil é uma 'baba' (será da gíria 'barbada'?)", tendo em vista ainda os complicados mecanismos governamentais com valores administrativos astronômicos? São tantas as dificuldades de governar este País, que se corre o risco de se sucumbir a elas, dizer o contrário é pura alienação da realidade.

Há um aforismo que cabe ao Governo do Brasil: "Como uma mulher, o cavalo não aprecia os fracos, menos ainda os respeita" (ALVISI). Formação, talento, feeling político, respaldo intelectual e sobretudo inabalável estabilidade emocional constituem o preparo do futuro “homem só” do Brasil, deste modo haverá governabilidade.


Bia Botana é analista política

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