SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

REVOLUÇÃO DAS PANELAS




Jornal de Brasília

Quarta-feira, 8/6/94

Revolução das panelas

BIA BOTANA

 É espantosa a indignação de machismo explícito de certos articulistas políticos, que destilam preconceitos contra as candidaturas à vice-presidência de Íris Rezende (PMDB) e Gardênia Gonçalves (PPR), rotulando-as de donas de casa, como se esse não fosse um “status” comum a todas mulheres, sejam advogadas, médicas etc.

O crescente individualismo contemporâneo transformou a sociedade, e hoje até o homern se transfigura de dono de casa, scm que isso o desmereça em nada. Entretanto, o mesmo conceito aplicado às mulheres é pejorativo, não obstante grande parte delas cumpram dois turnos de trabalho: o doméstico desqualificado e o profissional mal remunerado (a mulher brasileira ganha 55% do salário masculino na mesma função).

As mulheres, ou melhor, as donas de casa, constituem nos nossos dias mais da metade da população, da força de trabalho, de chefes de família, de consumidoras e sobretudo do eleitorado do do País. Nada mais justo que possuam uma representação condigna com o seu papel social. Quem pode saber mais das agruras do confronto salário “versus" supermercado? O desempenho feminino, contra a economia inflacionária dos últimos anos, se notabiliza pela hábil capacidade em superar os desafios de sobrevivência e de perpetuação da espécie

Íris e Gardênia são dignas representantes desse segmento social, que vem sofrendo um trato insultante do Estado. A participação delas no contexto das próximas eleições não é um “afago à vaidade”, muito menos uma “homenagem” às mulheres,  mas uma  situação de direito reconhecido por lideranças políticas esclarecidas.

As relações femininas com a sociedade têm trazido a gradativa supressão do autoritarismo masculino em prol de uma organização de parceria integradora, com resultados mais produtivos e humanos, que reflete a verdadeira democracia; O ganho conjunto passou a se sobrepor à competitividade egoística do ganho isolado, expressando o anseio feminino de maior justiça social. Neste quadro lris e Gardênia possuem larga experiência, não só pelo devotamento ao lar mas à sociedade.

A acusaçâo de despreparo de ambas candidatas à vice-presidência, ou mesmo à eventual presidência, é vil discriminação, já que superam um certo candidato em formação cultural, citando só um único aspecto. Em verdade melhor seria uma candidatura feminina à Presidência da República. Mas num país onde ainda a mulher casada necessita a vergonhosa autorização do marido – “geral ou especial em instrumento público ou particular previamente autenticado” (Arts. 242, 243, 247  252 do direito de família do Código Civil Brasileiro)  –  para participar da vida pública, não poderia existir uma Thatcher!

Enquanto vigorar um Código Civil retrógrado que subjuga pelo matrimônio a mulher, em seus direitos civis, políticos, econômicos e trabalhista,  à autoridade masculina, a expressão de inferioridade social feminina permanecerá. Apesar do empenho de uma mídia antifeminista, que exarceba a sexualidade da mulher como mercadoria prostituída, a fim de desviar sua atenção de seus reais intercsses, a luta feminina não parou. Os “soutiens", queimados em praça pública no passado, acenderam a chama que ainda queima alimentando uma renovada revolução, que abrange todos os injustiçados da humanidade. A revoluçáo das panelas marca a luta feminina pelo livre acesso ao centro de poder, único caminho que permitirá às mulheres restaurar a própria honra e dignidade, assim como implantar uma justiça social numa sociedade corrupta e desvirtuada.

Donas de casa, unam-se! Apóiem nossas representantes políticas, para que possam trazer significativas e benfazejas mudanças ao Estado brasileiro. A revolução das panelas começa agora nas urnas, nossa arma poderosa é o voto, unidas, mais uma vez venceremos.

Bia Botana é analísta política

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