SEMENTES

Bem Vindos!

Sempre pensei que escrever é semear idéias.
Aqui vocês encontrarão as sementes que eu já plantei,
que germinaram, cresceram, deram flores e frutos.

Esse Blog é a semente dos frutos colhidos há muito tempo,
elas dormiram na escuridão por longos anos
e agora
eu estou a semeá-las novamente...,
para germinarem, crescerem, florescerem...
e um dia darem seus frutos.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

LIVRE ARBÍTRIO




Jornal de Brasília

Quarta-feira, 22/06/94

Livre Arbítrio

BIA BOTANA


Definir o caminho a percorrer do destino é o exercício contínuo do livre arbítrio humano – manifesto na capacidade da razão de pesar os prós e contras de uma ação, antecipando as consequências decorrentes e assim determinar escolhas. De maneira consciente ou inconsciente o ser humano exercita o livre arbítrio constantemente, estabelecendo um futuro apesar de condicional a ele condicionado.

O livre arbítrio individual, entretanto, conflui a outro determinante do destino comum de uma sociedade. O que pode ser chamado de livre arbítrio nacional, todavia, é decidido pelos governantes de uma nação. Ora, se o mal uso do livre arbítrio pode ter nefastas consequências ao indivíduo, o que dizer, então, em relação ao Estado?

A incapacidade de prever as consequências de uma ação tem sido o maior fator comprometedor do Estado brasileiro nas últimas décadas. Assim foi na década de 70 ao se promover uma brutal estatização da economia nacional  – que gerou uma dívida interna de igual proporção, fonte única do atual problema econômico; e depois na década de 80 com a criação da reserva da indústria de informática  – um protecionismo que, além de tornar o parque industrial obsoleto, condenou o País ao atraso tecnológico –, só para citar dois exemplos de escolhas erradas dos governantes brasileiros, que colocaram o Brasil na contramão da História.

Nossos governantes parecem sofrer mais do que uma mera falta de visão, mas também de uma vaidade excessiva. Os poderosos deste País almejam ser predestinados, salvadores da pátria, jamais governantes que apenas honrem os compromissos do cargo. Talvez a existência de tantos líderes nacionais com procuração divina, para cometer toda sorte de asneira na presidência dessa infeliz República, seja o motivo de o Brasil viver eternamente capenga, incapaz de dar um passo após o outro, sempre sob a ameaça de um desastre iminente.

Todos os presidentes desde Getúlio, inclusive os militares, tiveram uma única ambição: passar para a História como salvadores da Nação, através das mais variadas medidas milagrosas. Cada um, a sua maneira, encarnou uma arrogância real incompatível com o mundo democrático contemporâneo. Quando a democracia ressurgiu pelas mãos norte-americanas como exemplo mundial, a instituição do cargo presidencial despojava os privilégios monárquicos ao governante de um Estado, assegurando que este, o Estado, se conservasse a salvo e acima das veleidades humanas. Todavia, no Brasil, isso parece incompreensível, onde medram reizinhos irresponsáveis, que com seus caprichos comprometem o livre arbítrio nacional com um destino cada vez mais desastroso à Nação.

Pode um presidente da República colocar seus problemas pessoais acima dos interesses do Estado? É certo que não, mas no Brasil pode. Não há nada demais o presidente cancelar compromissoi nacionais e internacionais em razão de uma crise emocional, seja ela justificada ou não. Em nenhum momento ocorre ao alto signatário que no uso do seu livre arbítrio decide por 160 milhões de brasileiros. Tomar decisões pessoais, impô-las impunemente à Nação, colocar-se acima do Estado, são atitudes costumeiras de nossos presidentes.

Mesmo nas mais pequenas atitudes a Presidência da República incorporou um manto real, que faz do livre arbítrio presidencial uma arma letal ao destino de milhares de brasileiros, da Nação, único elemento responsável da situação caótica do País.

Se existe uma solução para o Brasil, e futuro para nós brasileiros, será a ocupação da presidência por um governante que não seja predestinado a nada, seja só profissional. Um indivíduo que aja, se comporte e decida como um verdadeiro presidente, respeitando o livre arbítrio nacional, e não como um reizinho.

Bia Botana é analista política

Nenhum comentário:

Postar um comentário